O País vai mal. Todo o mundo o reconhece. De alguns sectores da direita à esquerda. A cada dia se apresentam novas soluções para a crise, mas ela cada vez se aprofunda mais como uma febre maligna que vai destruindo o corpo da república. Isto, porquê? Porque o país é pasto do capitalismo monopolista, é governado por uma troika estrangeira que o empurra para crises insolúveis e dirigido por políticos incompetentes e corruptos, que não têm nada a ver com os interesses daqueles que os elegeram. As pessoas deixaram de acreditar nos que se dizem seus representantes e, por isso, nos remédios que eles recomendam e ministram para debelar essa febre. A democracia em Portugal, e não só, está em crise, mergulhada numa agonia sem fim, e sem democracia real, verdadeira, nenhum dos problemas que afligem os povos, principalmente os da União Europeia terá solução. Evidentemente que isto todos sabem, mas recusam-se a trilhar o caminho correto, preocupando-se não em encontrar soluções mas em bisbilhotar, divulgar e opinar, tal casa dos segredos, sobre determinados fait-divers ligados a casos que põem em causa os fundamentos da democracia, como o BES, Sócrates, Vistos Dourados, Apito Dourado, as compras milionárias dos chineses, vendas apressadas do património nacional, etc, etc. Enquanto isso, continua o ataque ao SNS, à Escola Pública, com milhares de funcionários e professores sem colocação ou à beira do desemprego, com estatísticas mentirosas e promessas que nunca serão cumpridas. Creio, porém que ainda há uma réstea de esperança, uma vez que a há pessoas, em todos os sectores de atividade, que se organizam para discutir a atual situação do país e da Europa, mas a quem, a meu ver, falta a decisão de agir. É necessário voltar ao povo e organizá-lo, pois é nele, no povo, que reside o poder.
O seu a seu dono. O nome deste blogue pertence ao professor Agostinho da Silva, o mais importante pedagogo da Lusofonia. É uma homenagem ao cidadão e grande mestre que o seu país natal quase desconhece, mas que marcou muitas gerações, sobretudo brasileiras, ensinando e ajudando a fundar várias Universidades.
Carta Vária, porquê?
quinta-feira, 4 de dezembro de 2014
Onde está o poder?
O País vai mal. Todo o mundo o reconhece. De alguns sectores da direita à esquerda. A cada dia se apresentam novas soluções para a crise, mas ela cada vez se aprofunda mais como uma febre maligna que vai destruindo o corpo da república. Isto, porquê? Porque o país é pasto do capitalismo monopolista, é governado por uma troika estrangeira que o empurra para crises insolúveis e dirigido por políticos incompetentes e corruptos, que não têm nada a ver com os interesses daqueles que os elegeram. As pessoas deixaram de acreditar nos que se dizem seus representantes e, por isso, nos remédios que eles recomendam e ministram para debelar essa febre. A democracia em Portugal, e não só, está em crise, mergulhada numa agonia sem fim, e sem democracia real, verdadeira, nenhum dos problemas que afligem os povos, principalmente os da União Europeia terá solução. Evidentemente que isto todos sabem, mas recusam-se a trilhar o caminho correto, preocupando-se não em encontrar soluções mas em bisbilhotar, divulgar e opinar, tal casa dos segredos, sobre determinados fait-divers ligados a casos que põem em causa os fundamentos da democracia, como o BES, Sócrates, Vistos Dourados, Apito Dourado, as compras milionárias dos chineses, vendas apressadas do património nacional, etc, etc. Enquanto isso, continua o ataque ao SNS, à Escola Pública, com milhares de funcionários e professores sem colocação ou à beira do desemprego, com estatísticas mentirosas e promessas que nunca serão cumpridas. Creio, porém que ainda há uma réstea de esperança, uma vez que a há pessoas, em todos os sectores de atividade, que se organizam para discutir a atual situação do país e da Europa, mas a quem, a meu ver, falta a decisão de agir. É necessário voltar ao povo e organizá-lo, pois é nele, no povo, que reside o poder.
quarta-feira, 29 de outubro de 2014
A praça é do povo.
Estou
feliz. A Dilma venceu, mais ou menos à rasquinha, mas venceu. Era mais do que
evidente que os cachorros que sempre nos andaram a morder os pés reagissem.Ainda
a presidente Dilma não tomou posse e já eles estão inventando a possibilidade
do impeachment, acusando-a de graves delitos tais como o chamado Petrolão. Não
era de esperar outra coisa, até porque agora não têm mais militares para
levá-los pela trela ao poder. Mas o que se faz com cães raivosos? Partem-se-lhes
os dentes de modo a que não possam morder. E nisto temos que estar todos
juntos, bem unidos, com os olhos fincados e bem fincados naquilo que são os
objetivos finais da nossa luta, afinal na luta do povo brasileiro. Não podemos,
de forma alguma, deixar que eles voltem a se assenhorear do poder. Por isso,
todas aquelas reformas que nos trouxeram até aqui têm de ser feitas doa a quem
doer, rapidamente, com determinação. Agora não há mais lugar para
"disse-me disse" ou "ainda não é possível" ou então que
"o povo não está preparado" para enfrentar connosco os seus
opressores de sempre. Agora, mais do que nunca, é necessário unirmo-nos com
determinação, sem vacilações. Quero também deixar uma palavra ao nosso povo
para que ele não se iluda mais uma vez com aqueles que se diziam seus amigos e
protetores mas nada mais fizeram do que oprimi-lo e explorá-lo. Afinal, quem é
e o que é esse Aécio Neves? Quem era o seu avô? É difícil defini-los porque em
todas as circunstâncias estiveram ao lado da repressão deixando o povo à sua
mercê, até mesmo os seus companheiros. O senador Tancredo Neves formou um
partido de oposição a pedido do ditador de plantão Castelo Branco. Nunca defendeu
esse partido nem os poucos membros que ousaram discordar da ditadura. Assistiu,
assobiando para o lado, a toda a repressão que a ditadura impôs ao povo
brasileiro. Parecia que tudo o que estava a acontecer no Brasil não era com
ele. Por casualidade e com a ajuda de alguns membros do partido
governamental-Arena-foi eleito no Congresso presidente da República. Aécio foi
eleito governador de Minas no falso prestígio do seu avô, prestigio esse que
não chegou agora para elegê-lo presidente da República. Ainda bem. O povo
brasileiro tem memória. Estou feliz.
Carta aberta a uma candidata vencida à presidência do Brasil
Ao ter conhecimento da tua existência e da tua militância
senti que alguma coisa estava a mudar no Brasil. Pela 1ª vez na História do Brasil uma mulher, que não
pertencia à burguesia dominante saía da obscuridade da sua terra de nascimento,
no Norte do Brasil e, através do seu esforço, ia escalonando os degraus do
poder até chegar à mais alta corte do Brasil -o Senado. O mesmo deslumbramento
devem ter tido outros brasileiros e nem
sequer temi que as forças reacionárias que sempre dominaram e exploraram esse
país te pudessem abocanhar. Afinal, tu fazias o teu caminho com o Partido dos Trabalhadores
que, mesmo não sendo um Partido perfeito, se assumia como uma força
transformadora do Brasil. Foi assim durante anos até que começaram a surgir notícias
preocupantes. A aliança com os movimentos evangélicos mais conservadores não
augurava nada de bom. Não é que eu tenha alguma coisa contra os evangélicos,
qualquer que seja a sua denominação. Tive grandes amigos, até norte-americanos,
crentes presbiterianos praticantes. Jamais poderei esquecer o Paulo Wright que foi
militante de A.P. e da A.P.M.L. e foi vilmente assassinado em S. Paulo pela
polícia de Fleury. Para mim e para muitos outros que participaram na luta pela
democratização do Brasil ele sempre será herói. Depois chegou-me a notícia de
que irias abandonar o PT e filiar-te no partido dos Verdes. Quero dizer-te que
tenho um imenso respeito e admiração pelo trabalho dos partidos ecologistas,
pois defendem como ninguém, o meio ambiente, a casa comum de todos nós. Defender
o meio ambiente não é tarefa fácil, rodeados que estamos de predadores, os mais
poderosos e contumazes. Eles são contra a vida. Todavia, no Brasil eles , os
Verdes, têm sido ineficazes. Então perguntei-me o que irias fazer nesse
partido, abandonando um outro que não sendo perfeito, pela sua estrutura e
penetração tem condições objetivas de encaminhar soluções que ajudarão a transformar
o Brasil positivamente. Mais, soube-se também que a tua discordância com o PT
era mais um caso pessoal do que político. Pelo menos, foi isso o que chegou ao
meu conhecimento. Disso não me admirei, até porque os partidos, principalmente nos
partidos revolucionários a luta interna é o seu dia-a-dia. De outro modo,
mergulham numa paz podre. O que não cabe num partido revolucionário é a luta
pessoal sem princípios. Assim, soube, à partida, que ias perder esse confronto com
a presidente Dilma, então apenas Chefe da Casa Civil. Conheci-a na prisão. Ela
é uma mulher de armas. Determinada nos seus propósitos, firme nas suas convicções.
Não é uma mulher qualquer. Ela dominava aquele coletivo de mulheres do presídio
Tiradentes com um à-vontade incrível. Depois as nossas vidas separaram-se, ela
foi para o Rio Grande do Sul onde estava preso o seu ex-marido e eu transferido
para outros e outros presídios. Ela merece hoje, como antes, a minha confiança
e irrestrita solidariedade.
Tenho-te ainda como minha companheira de caminhada
revolucionária, como combatente do mesmo exército libertador. Se quiseres
aceitar um conselho meu, e eu já sou velho suficiente para poder dar conselhos,
(tenho talvez tantos anos de militância política como tu de vida), inicia, já,
hoje, o caminho do regresso, voltando ao seio de onde saíste para que todos te
possam de novo receber e abraçar como companheira do mesmo combate.
domingo, 31 de agosto de 2014
Finalmente chegaste, amigo, velho guerreiro!
Há um direito civilizacional que está acima de qualquer
constituição ou poder e que nos vem do princípio
dos tempos, quando os homens começaram a viver em comunidade. É o direito
inalienável de todos os seres humanos velarem e chorarem os seus mortos e enterra-los
conforme o ritual estabelecido.
Apesar disso, ao longo dos tempos, muitos falsos poderes e
muitas instituições abusivas se levantaram contra esse direito e tentaram
retirar aos povos aquilo que nunca lhe poderá ser retirado: o direito aos seus mortos.
Foi o que aconteceu no Brasil a partir de 1964 quando uma ditadura militar fascista
se apoderou do poder e durante 20 anos atropelou os direitos humanos.
Epaminondas de Oliveira foi um daqueles, entre muitos outros,
a quem essa Ditadura negou os “sete palmos” a que todos temos direito na terra
e a ser venerado e chorado pela sua família e amigos diante
do seu corpo de lutador e homem íntegro. Felizmente Epaminondas de Oliveira
voltou à sua cidade, à sua família, aos seus amigos que no Brasil e fora dele o admiram e
respeitam para receber as homenagens que lhe são devidas e
ser conduzido, em triunfo, ao Campo Santo que o espera há 40 anos. Tudo isto,
este regresso e o reconhecimento da sua luta é fruto da persistência,do sentido
de justiça e do amor, mais do que
ninguém, da sua família e, sobretudo, do
seu neto Epaminondas. Sem essa dedicação
jamais teríamos Epaminondas de Oliveira connosco e ele continuaria esquecido, enterrado que foi como indigente num cemitério de Brasília. Obrigado,
Epaminondas Neto!
Pessoalmente tenho muitas e boas lembranças e grande saudade
do velho Epa e só não estou hoje aí para participar da sua glória porque a minha saúde
o não permite. Epaminondas foi para mim um mestre, um companheiro que me abriu
caminhos que eu jamais descobriria e me enriqueceu com companheiros que a morte
também já roubou. Epaminondas foi um
lutador desde o primeiro dia em que
tomou consciência que era necessário mudar o mundo, foi um combatente
revolucionário que fez da sua vida a sua luta, um daqueles que por ter lutado
todos os dias da sua vida se tornou imprescindível.
Eu hei-de voltar aí
um dia, não sei quando, porque a minha relação com EPA não terminou ainda e eu
como caminhante do mesmo caminho quero prestar-lhe contas dos caminhos que
trilhei sem ele. Até de repente, querido
amigo!
terça-feira, 22 de julho de 2014
Voltei!
Faz
um tempão que não escrevo nada nem no blogue nem no facebook que era a forma
mais rápida e mais abrangente que eu tinha de me encontrar com os meus amigos.
Há
muitas razões que abonam esta minha atitude, sendo que a maior é o eu ter
andado de hospital em hospital, num morre agora ou morre logo. Felizmente ainda
há médicos e enfermeiros e pessoal não médico que aposta em salvar os doentes,
retirando-os até à má cara das garras da morte.
Foram
47 dias de luta entre o pessoal médico e a morte, de disputa feroz pela minha
vida. Claro está que nessa batalha o amor, a solidariedade e a preocupação dos
meus familiares, companheiros e amigos foram uma arma importante para consumar
a vitória da vida.
De
todos esses dias, em que andei para cá e para lá, não tenho qualquer memória
própria e tudo aquilo que sei foi-me relatado pelas pessoas que mais de perto
me acompanharam.
Quando
entrei em casa, qual combatente regressado de uma grande batalha, eu parecia um
fantasma de mim mesmo. Daí para cá, tudo o que eu tenho feito é jogar o
fantasma para longe, regressando ao seio da família e dos amigos, das conversas,
do facebook e até das Maifs quando as houver.
É
evidente que durante este tempo o mundo não parou e tudo o que tinha que
acontecer aconteceu.
Realizou-se
o campeonato do mundo de futebol, onde como era de prever, Portugal foi um fiasco
só comparável ao do Brasil e o povo brasileiro demonstrou maturidade ao
revoltar-se nas ruas; os teóricos da dívida portuguesa não se entendem sobre a
forma de pagá-la, ou não, de renegociá-la, ou não, porque, no fundo, desde a
direita à esquerda todo o mundo tem medo de meter a mão nesse vespeiro; a fome
e as guerras em África são cada vez mais frequentes e violentas, desde a
criação da FAO que os famintos não param de crescer; os Ucranianos continuam a
lutar entre si mesmos, e a acrescentar a tragédia de um avião civil das linhas
aéreas da Malásia, que voava de Amesterdão para Kuala –Lampur, com cerca de 300
passageiros a bordo, ser abatido por um míssil sobre a Ucrânia; no Egipto
continuam cidadãos a ser executados e jornalistas a serem presos; o Iraque, a Síria
perpetuam as suas guerras políticas e de religião e continuam a ser manipulados
por forças exteriores; como era de prever o Governo de Israel avançou sobre a
faixa de Gaza, já provocou várias centenas de mortos e crimes contra a
humanidade com os militantes do Hamas a continuar a resistir e a opinão pública
internacional só agora começou a reagir. Não se vislumbram tréguas e muito
menos paz para a Palestina mártir; por último, a entrada da Guiné Equatorial
como membro de pleno direito na CPLP, na reunião de Dili, demonstra bem a
qualidade moral e política de todos aqueles que apoiam e saúdam esse ato extremamente
vergonhoso.
A
partir de agora retornarei, com mais frequência aos meus comentários sobre as questões
que mais nos preocupam.
terça-feira, 18 de fevereiro de 2014
Yo tengo tantos
hermanos…
Yo tengo tantos hermanos
Que non los puedo contar
E una novia muy hermosa
Que se llama libertad!
Ataualpa Yupanki
Sempre soube que tinha muitos amigos e
muitos irmãos de fé. Mas nunca pensei que fossem tantos, e que estivessem
espalhados por todos os cantos do mundo. Foi assim, e por isso, que no dia do
meu aniversário me chegaram tantas mensagens de amizade, felicitações,
solidariedade, longa vida e exigências de que a luta em que estivemos
envolvidos, é para continuar, pois a idade da reforma nunca chega para aqueles
que querem construir um mundo novo.
As lutas passadas, as amizades
solidamente construídas, as desilusões que também houve, as quedas que muitos
sofremos, a perseverança de tantos e tantos, os sacrifícios de vidas ceifadas
pela crueldade dos nossos inimigos, tudo isso me voltou à memória.
O meu desejo era estar com todos os
companheiros e companheiras para recordarmos o passado e continuar a lançar as
bases do futuro. Desejei até estar com aqueles que me felicitaram sem que eu os
conheça pessoalmente. Essa foi uma solidariedade nova e profundamente
gratificante. Demos tão pouco e estamos a receber tanto! Não recebi mensagens
de muitos e muitos companheiros com quem vivi muitos sóis e muitas luas e com
quem percorri tantos e tão agrestes caminhos. Eles não podiam estar presentes
nem mandar-me mensagens, porque sendo sementes, foram lançados à terra, para
que, no futuro haja pão para todos. Por momentos, ou não sei por quanto tempo
viajei ao seu encontro para a constelação da Utopia. Assim, pude reencontrar o
Augusto do Nascimento, semeado em terras do Maranhão, o Mariano (Loyola) meu
companheiro de tantas jornadas, assassinado na casa dos horrores em Petrópolis,
o João Pedro Teixeira, que Sapé chora até hoje, vitimado que foi pelo
latifúndio da Paraíba, o Epaminondas, de Porto Franco, assassinado na tortura
em Brasília pelos esbirros do general Bandeira e cujos restos mortais, só
agora, mais de 40 anos passados serão entregues à família, o Raimundinho,
ceifado em Recife, pelas balas assassinas da polícia e do exército.
Mas por lá, pela constelação da Utopia,
pude encontrar ainda, companheiros como o Marighela, o Câmara Ferreira,O
Macena, O Lamarca, o Che, assassinado e semeado na Bolívia e cuja semente já se
vê crescer agora. E também o Camilo Torres que caído no solo da Colômbia e cuja
sementeira só agora, começa a dar fruto.
Por fim o Zeca, o cantautor da
liberdade, andarilho, poeta e cantor, que agora mais vivo do que nunca,
continua a cantar a liberdade e a
inspirar os seus novos cantores. Não sei o que dizer mais, se não que as vossas
mensagens acrescentaram vontade à minha vontade, determinação à minha
determinação para continuar a trilhar os difíceis caminhos que nos hão-de
conduzir à "capital da alegria.”O meu bem-haja a todos.
Aquele abraçoDo meu amigo Paulo Esperança, que me mandou este presente de aniversário
CARTA a um
HOMEM de "ANTES QUEBRAR QUE TORCER"
… (que completa 85 anos em 17 de Fevereiro de 2014)
Tenho quase 59 anos, chamo-mo PE, sou do Porto, faltam-me muitos dentes e não sou filho de professores primários.
Não sou "velho" amigo do Alípio de Freitas apesar de ter a sensação que já percorremos o universo em "guerras" comuns.
Mas isto, já sei o que estão a pensar… é "conversa fiada" ou paleio de "cristão-novo".
Talvez tenham razão!
Aliás, devo dizer que cheguei ao Alípio por intermédio de uma mulher que muito admiro: a Guadalupe.
Que, aqui afirmo de forma clara…não entendo como continua a ter pachorra para o aturar. Mas isso é problema dela!
Passemos à frente: há mais de 10 anos, Aznar, Bush, Blair eram recebidos na Base das Lajes pelo estalajadeiro Durão Barroso.
Em poucos minutos, depois de uma caldeirada de peixe, e provavelmente, de "tintol" a mais, a decisão foi tomada: o Iraque iria ser invadido.
Um grupo de homens e mulheres decide então lançar, em Portugal, o Tribunal Mundial sobre o Iraque na sequência do Tribunal Russel e de outras iniciativas internacionais.
Fui a Lisboa… inseri – me, com muito orgulho, nesse projecto e conheci a Guadalupe na Associação 25 de Abril, na montagem de uma exposição.
Apareceu o Alípio…que não ajudou a fazer nada…diga-se de passagem.
Portanto, podemos dizer que, para mim, a Guadalupe é que conta: sem ela não teria conhecido o Alípio.
Claro que isto não pode ser lido à letra:
-tinha visto na RTP uma série de trabalhos feitos por ele,
-conhecia sua história política no Brasil porque, confesso, a epopeia da luta armada na América Latina sempre me seduziu intelectualmente,
-e, finalmente, tinha ouvido vezes sem fim a faixa 10 do disco "COM AS MINHAS TAMANQUINHAS" onde o Zeca celebra a capacidade de luta e resistência de um homem de grande firmeza.
Os nossos caminhos, por generosidade do Alípio e da Guadalupe, passaram a estar próximos.
Confesso, nem ele se lembrará seguramente, que quase durante um ano o tratei por você.
Depois, enchi-me de coragem e passei a trata-lo por tu.
E depois…com mais coragem ainda… passei a chatear-lhe a cabeça com "provocatórias" divergências políticas.
Uma vez, em minha casa…ousei dizer-lhe que estava a ficar "social-democrata ".
Lembro-me perfeitamente: estávamos à mesa, olhou para mim e disse olimpicamente: "ganha juízo e deita-me mais vinho no copo".
Mas, como o respeitinho é muito lindo…eu "dourava a pílula" chamando-lhe "mestre" e depois "comandante".
Há mais de meia dúzia de anos a Natércia Campos, então Presidente da Direcção da Associação José Afonso morria ao serviço de "O Bando", onde trabalhava.
A AJA…. não vivia os seus melhores dias.
Em Azeitão… no meio de umas sardinhas assadas… o Alípio foi proposto para Presidente da Direcção. O Francisco Fanhais foi proposto para Presidente da mesa da AG.
Um companheiro nosso ficou encarregado de fazer os contactos e o Alípio respondeu que sim…mas que julgava que a AJA tinha acabado. Ele que tinha sido fundador!
Fiz com ele alguma estrada que, julgo, ajudou a implantar, um bocadinho mais, a AJA.
Hoje, aqui chegados, continuadamente "à procura do socialismo" nada tenho para dizer a um homem que escreveu um livro, "RESISTIR É PRECISO", no qual ressalta uma ideia base: "quando percebi que não ia morrer decidi resistir e lutar … sempre"!
E nada mais há a dizer porque o Zeca já disse tudo: na prisão de Tiradentes…homem de grande firmeza.
Bem hajas COMANDANTE pelo teu exemplo de coragem, firmeza e coerência! Estaremos contigo para o que der e vier!
PE
PS: sinceramente, por ti, APENAS por ti, lamento a maré "cinzenta" em que o teu Futebol Clube do Porto navega! Mas ninguém é perfeito…nem o Pinto da Costa.
quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014
Te cuida Miró! Os quarenta ladrões estão à
solta!
Conheci o Miró na prisão…
Depois
de uma greve de fome de trinta dias, na penitenciária do Estado de S. Paulo,
para onde cerca de trinta presos políticos foram transferidos por ordem do auditor
militar, um tal Dr.Nelson, fomos depois enviados para o presidio do Carandiru. Nessa
greve, foi importante a acção, entre outras pessoas, do Núncio Apostólico e do
Cardeal Arms, Arcebispo de S.Paulo, e sobretudo, a decisão da ditadura,
transformada em ordem para os médicos, de que nenhum de nós poderia morrer. Devo
acrescentar ainda que a penitenciária de S. Paulo era um lugar destinado não apenas
a guardar os presos até que eles cumprissem a sua pena, mas sim a destrui-los
psicológica e moralmente. Ao entrar lá, perdia-se imediatamente a identidade e
os presos passavam a ser conhecidos apenas por um nº que os acompanharia
enquanto lá estivessem. A reclusão era total, quebrada apenas por uma hora de “banho
de sol”, se essa fosse a vontade do Diretor. A mesma arbitrariedade em relação
às visitas, obrigatórias por lei, mas que a vontade do diretor podia cancelar a
seu belo prazer.
Chegados
ao presidio do Carandiriu, o coronel da PM Fernão Guedes, seu diretor,
reuniu-nos e disse-nos o seguinte:
-“Agora
tratem de se recuperar. Os médicos do presidio estão a par da vossa situação. A
minha função aqui, como Diretor, é apenas a de manter-vos presos,
proporcionando-vos as condições necessárias para que a vossa vida corra
normalmente, pois não é meu direito agravar as vossas penas, tornando-as mais
difíceis ainda de cumprir. Esta norma serve para mim, para todos os
responsáveis de pavilhão e para vós mesmos. Agora distribuam-se pelas celas como
quiserem e organizem-se neste espaço. As vossas visitas e banhos de sol serão
regidos pelas mesmas normas de todos os presos.”
Era
a primeira vez, em todas as prisões por onde tinha passado, onde um Diretor afirmava
tais coisas. Afirmou e sempre cumpriu. Quando ficámos sós, sentámo-nos numa
sala grande, olhámos uns para os outros. Custava-nos a acreditar no que ouvíramos,
mas diante da realidade, começámos a definir o que seria a nossa vida ali
naquele presidio. Fizemos então uma lista de pedidos a encaminhar à Administração:
receber livros, jornais e música; celas abertas durante todo o dia;
possibilidade para praticar desporto e ainda de fazer artesanato-atividade
importante para nós - não só porque nos mantinha ativos, mas também porque ajudava
as famílias de alguns companheiros em dificuldade. Todas as exigências foram
atendidas sem reservas.
Foi
nessas circunstâncias que um dia chegaram ao presidio, durante uma visita, umas
coleções de reproduções de pintores célebres, entre os quais Juan Miró, que
quase ninguém conhecia, mas que agradou a todos pela possibilidade de ser reproduzido em
couro, pelo sistema BATIK.
Comigo,
foi amor à primeira vista, sempre que podia, levava o livro, onde estavam as
reproduções das suas pinturas, para a cela e ficava a examiná-las horas
seguidas, tentando encontrar nelas algum sentido. Depois via-me de olhos
fechados a examiná-los e, aí, tudo se animava por detrás da minha retina.
Comecei até a pensar que Miró, antes de
pintar os seus quadros, ficaria de olhos fechados a olhar para o nada, esperando que alguma
coisa acontecesse e então aconteciam aquelas pinturas. Mais tarde, li que Miró
pintava as imagens que se iam construindo na sua cabeça quando estava de olhos
fechados. É por isso que Miró foi meu companheiro de prisão e continuou a acompanhar-me pelos muitos lugares
por onde andei depois.
Vem
isto tudo a respeito da polémica absurda que agora se levanta em torno das 85
pinturas de Miró, propriedade do estado português, melhor dizendo, de todos os
portugueses, que o 1º Ministro e a horda de traficantes que fazem parte do seu Governo,
querem vender para saldar parte de uma dívida insolúvel que eles mesmos
fizeram.
Nem
me admira muito que esta horda esteja tão determinada a vender aquilo que não é
seu, uma vez que eles são capazes de vender a própria mãe e entrega-la ao
comprador.
Muitas
vezes fala-se com horror da Inquisição que queimava pessoas vivas, desenterrava
cadáveres para os julgar e queimar na fogueira, queimava livros, desterrava
pessoas, destruía obras de arte, era inimiga jurada da ciência, e durante mais
de 300 anos reduziu este país à maior indigência intelectual e política de que
se tem memória na História. Fala-se também com horror, das perseguições
nazistas aos intelectuais, aos homens de cultura, aos artistas de todas as
artes e também da queima pública de livros. Para um nazi bastava apenas um
livro: Mein Kampf. Foi esse o mesmo argumento que levou o comandante muçulmano que
conquistou Alexandria a mandar queimar a biblioteca de Alexandria, a maior, a mais
rica e a mais famosa do mundo. Segundo ele, o mundo precisava apenas de um
livro: O Corão.
Mas
não precisamos de ir procurar argumentos a outros lugares. O que fizeram em
Portugal as Mesas Censórias? Que comportamento teve em relação à cultura e à inteligência,
o fascismo? E já depois do 25 de Abril, não houve aqui um Secretário de Estado da
Cultura e um Primeiro Ministro que anatematizaram a obra do único prémio Nobel de Literatura que
Portugal Já teve, José saramago?
O
que me preocupa, no caso da tentativa de venda fraudulenta das obras de Miró, é
que se transforme apenas numa tempestade num copo de água com debates acessos no
princípio, mornos, a seguir, e depois esfrie, animando a quadrilha do governo a
uma nova tentativa, melhor preparada, e com sucesso quase garantido. No momento,
a discussão está na rua mas ainda não chegou ao povo que, pressionado pelos
muitos problemas que o afligem, não tem tempo nem cabeça para se preocupar com
atentados culturais. É necessário que a indignação chegue às ruas e que as pessoas comuns entendam que um povo sem
cultura, não é um povo, é, no máximo, um rebanho de carneiros castrados que querem apenas comer.
E é na transformação deste povo português que já deu provas em muitas ocasiões
de ser capaz de tomar grandes atitudes, atitudes até extremas, de ocupar o seu
lugar na História, que essa quadrilha do Governo e seus apoiantes, dentro e
fora da Assembleia da República, quer transformar em rebanho castrado. Hoje
vendem o Miró, amanhã o acervo do Museu de Arte Antiga, depois o Museu de Arte
Moderna, logo a seguir o Jerónimos e Alcobaça a uma empresa hoteleira e não pararão
até que nos transformem a todos em trabalhadores temporários com deveres e sem
direitos. Sei do que estou a falar porque levo mais de 50 anos a lutar contra
essas quadrilhas e a tentar contribuir para a construção de um mundo solidário,
fraterno e humano, onde a cultura seja um bem primordial.
Alípio
de Freitas
P.S.
Sabe-se que o BPN teria no seu acervo não apenas 85 quadros do Miró mas sim 200
peças. O que é feito das 115 que faltam? Talvez a quadrilha que geriu o BPN a
seu favor e faz de conta que nada disto é com ela saiba alguma coisa sobre o
assunto…!
Se
eu tivesse os 35 milhões de euros, eu mesmo comprava os 85 quadros de Miró e
haveria de construir um Museu onde seria proibida a entrada a todos os membros
da quadrilha do Governo e ainda a de todos aqueles que a apoiam dentro e fora
do Parlamento…
Subscrever:
Mensagens (Atom)