Ao ter conhecimento da tua existência e da tua militância
senti que alguma coisa estava a mudar no Brasil. Pela 1ª vez na História do Brasil uma mulher, que não
pertencia à burguesia dominante saía da obscuridade da sua terra de nascimento,
no Norte do Brasil e, através do seu esforço, ia escalonando os degraus do
poder até chegar à mais alta corte do Brasil -o Senado. O mesmo deslumbramento
devem ter tido outros brasileiros e nem
sequer temi que as forças reacionárias que sempre dominaram e exploraram esse
país te pudessem abocanhar. Afinal, tu fazias o teu caminho com o Partido dos Trabalhadores
que, mesmo não sendo um Partido perfeito, se assumia como uma força
transformadora do Brasil. Foi assim durante anos até que começaram a surgir notícias
preocupantes. A aliança com os movimentos evangélicos mais conservadores não
augurava nada de bom. Não é que eu tenha alguma coisa contra os evangélicos,
qualquer que seja a sua denominação. Tive grandes amigos, até norte-americanos,
crentes presbiterianos praticantes. Jamais poderei esquecer o Paulo Wright que foi
militante de A.P. e da A.P.M.L. e foi vilmente assassinado em S. Paulo pela
polícia de Fleury. Para mim e para muitos outros que participaram na luta pela
democratização do Brasil ele sempre será herói. Depois chegou-me a notícia de
que irias abandonar o PT e filiar-te no partido dos Verdes. Quero dizer-te que
tenho um imenso respeito e admiração pelo trabalho dos partidos ecologistas,
pois defendem como ninguém, o meio ambiente, a casa comum de todos nós. Defender
o meio ambiente não é tarefa fácil, rodeados que estamos de predadores, os mais
poderosos e contumazes. Eles são contra a vida. Todavia, no Brasil eles , os
Verdes, têm sido ineficazes. Então perguntei-me o que irias fazer nesse
partido, abandonando um outro que não sendo perfeito, pela sua estrutura e
penetração tem condições objetivas de encaminhar soluções que ajudarão a transformar
o Brasil positivamente. Mais, soube-se também que a tua discordância com o PT
era mais um caso pessoal do que político. Pelo menos, foi isso o que chegou ao
meu conhecimento. Disso não me admirei, até porque os partidos, principalmente nos
partidos revolucionários a luta interna é o seu dia-a-dia. De outro modo,
mergulham numa paz podre. O que não cabe num partido revolucionário é a luta
pessoal sem princípios. Assim, soube, à partida, que ias perder esse confronto com
a presidente Dilma, então apenas Chefe da Casa Civil. Conheci-a na prisão. Ela
é uma mulher de armas. Determinada nos seus propósitos, firme nas suas convicções.
Não é uma mulher qualquer. Ela dominava aquele coletivo de mulheres do presídio
Tiradentes com um à-vontade incrível. Depois as nossas vidas separaram-se, ela
foi para o Rio Grande do Sul onde estava preso o seu ex-marido e eu transferido
para outros e outros presídios. Ela merece hoje, como antes, a minha confiança
e irrestrita solidariedade.
Tenho-te ainda como minha companheira de caminhada
revolucionária, como combatente do mesmo exército libertador. Se quiseres
aceitar um conselho meu, e eu já sou velho suficiente para poder dar conselhos,
(tenho talvez tantos anos de militância política como tu de vida), inicia, já,
hoje, o caminho do regresso, voltando ao seio de onde saíste para que todos te
possam de novo receber e abraçar como companheira do mesmo combate.
Gostei de ler , porque conhece Dilma e me identifico com o que diz sobre Marina.
ResponderEliminarBom dia