Carta Vária, porquê?



quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Carta aberta a uma candidata vencida à presidência do Brasil



 
Marina:

Ao ter conhecimento da tua existência e da tua militância senti que alguma coisa estava a mudar no Brasil. Pela 1ª vez na História do Brasil uma mulher, que não pertencia à burguesia dominante saía da obscuridade da sua terra de nascimento, no Norte do Brasil e, através do seu esforço, ia escalonando os degraus do poder até chegar à mais alta corte do Brasil -o Senado. O mesmo deslumbramento devem  ter tido outros brasileiros e nem sequer temi que as forças reacionárias que sempre dominaram e exploraram esse país te pudessem abocanhar. Afinal, tu fazias o teu caminho com o Partido dos Trabalhadores que, mesmo não sendo um Partido perfeito, se assumia como uma força transformadora do Brasil. Foi assim durante anos até que começaram a surgir notícias preocupantes. A aliança com os movimentos evangélicos mais conservadores não augurava nada de bom. Não é que eu tenha alguma coisa contra os evangélicos, qualquer que seja a sua denominação. Tive grandes amigos, até norte-americanos, crentes presbiterianos praticantes. Jamais poderei esquecer o Paulo Wright que foi militante de A.P. e da A.P.M.L. e foi vilmente assassinado em S. Paulo pela polícia de Fleury. Para mim e para muitos outros que participaram na luta pela democratização do Brasil ele sempre será herói. Depois chegou-me a notícia de que irias abandonar o PT e filiar-te no partido dos Verdes. Quero dizer-te que tenho um imenso respeito e admiração pelo trabalho dos partidos ecologistas, pois defendem como ninguém, o meio ambiente, a casa comum de todos nós. Defender o meio ambiente não é tarefa fácil, rodeados que estamos de predadores, os mais poderosos e contumazes. Eles são contra a vida. Todavia, no Brasil eles , os Verdes, têm sido ineficazes. Então perguntei-me o que irias fazer nesse partido, abandonando um outro que não sendo perfeito, pela sua estrutura e penetração tem condições objetivas de encaminhar soluções que ajudarão a transformar o Brasil positivamente. Mais, soube-se também que a tua discordância com o PT era mais um caso pessoal do que político. Pelo menos, foi isso o que chegou ao meu conhecimento. Disso não me admirei, até porque os partidos, principalmente nos partidos revolucionários a luta interna é o seu dia-a-dia. De outro modo, mergulham numa paz podre. O que não cabe num partido revolucionário é a luta pessoal sem princípios. Assim, soube, à partida, que ias perder esse confronto com a presidente Dilma, então apenas Chefe da Casa Civil. Conheci-a na prisão. Ela é uma mulher de armas. Determinada nos seus propósitos, firme nas suas convicções. Não é uma mulher qualquer. Ela dominava aquele coletivo de mulheres do presídio Tiradentes com um à-vontade incrível. Depois as nossas vidas separaram-se, ela foi para o Rio Grande do Sul onde estava preso o seu ex-marido e eu transferido para outros e outros presídios. Ela merece hoje, como antes, a minha confiança e irrestrita solidariedade.
 

Tenho-te ainda como minha companheira de caminhada revolucionária, como combatente do mesmo exército libertador. Se quiseres aceitar um conselho meu, e eu já sou velho suficiente para poder dar conselhos, (tenho talvez tantos anos de militância política como tu de vida), inicia, já, hoje, o caminho do regresso, voltando ao seio de onde saíste para que todos te possam de novo receber e abraçar como companheira do mesmo combate.

1 comentário:

  1. Gostei de ler , porque conhece Dilma e me identifico com o que diz sobre Marina.

    Bom dia

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