Carta Vária, porquê?



terça-feira, 21 de abril de 2015

Requiem para um sonho!


 

Há mais de mil anos que os europeus exploram a África. Primeiro foram os ikos, um povo grego que em muitas e variadas ocasiões devastou o delta do Nilo. Depois vieram os romanos que, com a sua avidez, conquistaram o Egipto por causa da abundância de trigo. A seguir e por outros motivos conquistaram a Líbia, ocuparam a Tunísia e a Argélia, fixando-se finalmente numa parte do que é hoje Marrocos. Tudo para, diziam eles, evitar o domínio do Mediterrâneo pelos Cartagineses, um povo fenício que se fixou onde é hoje Túnis. Este domínio e exploração só terminam quando os árabes diante da fraqueza e contradições do Império Bizantino, conquistam o que é hoje a Síria, o Líbano, a Jordânia, Israel, o Egipto e tudo o mais até Marrocos. Mais tarde chegaram à Península ibérica onde ficarão por mais de 700 anos. A conquista de Ceuta, pelos portugueses marca, porém, a reconquista da África pelos europeus, reconquista essa que se faz ao longo de toda a costa africana e chega até ao Golfo Pérsico. Tudo o que era riqueza, como o ouro e pedras preciosas abundantes em África, vai chegando à Europa. Mas a necessidade de mão de obra na América inicia o trágico período da Escravatura. Segundo Davidson, historiador do assunto, mais de 150 milhões de africanos foram arrancados  da África e levados para as Américas.

Com o início da industrialização da Europa exigem-se matérias-primas abundantes. A África é então objeto de novas explorações que já não se limitam à costa mas entram dentro, dando origem ao tratado de Berlim que acomodou os interesses da Alemanha, Inglaterra, França, Bélgica, deixando a Portugal Moçambique, Guiné e Angola. Desta vez, já não era a escravatura o principal interesse, até porque no mundo industrializado, um operário ficava mais barato, mais em conta, do que um escravo. Mas todas as outras riquezas, como o ouro, a prata os diamantes, as madeiras, os minérios como o cobre, os produtos agrícolas continuaram a fluir para a Europa. Por incrível que pareça em consequência são agora os europeus sob as mais diversas denominações e profissões que emigram para África.

No final da segunda guerra mundial, sob pressão dos EUA que também havia sido uma colónia inglesa, dá-se início à descolonização transformando-se as antigas colónias em novos países independentes. Só que os ex-colonizadores esqueceram-se de que a África foi divida a lápis e esquadro, separando povos e regiões que jamais se encontrariam num novo país. Também os líderes africanos foram escolhidos a dedo para que permitissem e favorecessem a exploração dos seus países. Os que se opuseram ou resistiram foram assassinados ou depostos. Todavia, as riquezas de que necessitava a Europa continuaram a fluir para cá. Depois criou-se a teoria de que a África e os africanos não só não se sabiam governar como também não tinham condições de se sustentar, esquecendo-se os teóricos de que a África é um continente que dispõem de recursos suficientes para proporcionar bem-estar ao triplo da sua população. Recursos que vão da água potável, ao petróleo, ao gás natural, às terras férteis, às madeiras, ao ouro, à platina, aos diamantes…

Como a exploração continua, a miséria se tornou endémica e instabilidade política é permanente, criou-se nos africanos a miragem da vinda para a Europa, onde todos são felizes, onde o bem – estar é geral e a riqueza um património comum. Por isso eles arriscam tudo para chegar a esse “El Dorado”, entregando-se a todo o tipo de traficantes para morrerem depois na sua maioria afogados no Mediterrâneo. E o que fazem os europeus? Reuniões e mais reuniões, mas nada  de concreto para parar esse fluxo migratório.
Não sei, mas talvez chegue o dia em que os europeus entendam que a terra e as suas riquezas são um bem comum do qual todos os homens e mulheres têm o direito de usufruir.