Carta Vária, porquê?



domingo, 31 de agosto de 2014


 Finalmente chegaste, amigo, velho guerreiro!

Há um direito civilizacional que está acima de qualquer constituição ou poder  e que nos vem do princípio dos tempos, quando os homens começaram a viver em comunidade. É o direito inalienável de todos os seres humanos velarem e chorarem os seus mortos e enterra-los conforme o ritual estabelecido.

Apesar disso, ao longo dos tempos, muitos falsos poderes e muitas instituições abusivas se levantaram contra esse direito e tentaram retirar aos povos aquilo que nunca lhe poderá ser retirado: o direito aos seus mortos. Foi o que aconteceu no Brasil a partir de 1964 quando uma ditadura militar fascista se apoderou do poder e durante 20 anos atropelou  os direitos humanos.

Epaminondas de Oliveira foi um daqueles, entre muitos outros, a quem essa Ditadura negou os “sete palmos” a que todos temos direito na terra e a ser venerado e chorado pela sua família e   amigos diante do seu corpo de lutador e homem íntegro. Felizmente Epaminondas de Oliveira voltou à sua cidade, à sua família, aos seus  amigos que no Brasil e fora dele o admiram e respeitam  para  receber as homenagens que lhe são devidas e ser conduzido, em triunfo, ao Campo Santo que o espera há 40 anos. Tudo isto, este regresso e o reconhecimento da sua luta é fruto da persistência,do sentido de justiça e do amor,  mais do que ninguém, da sua família  e, sobretudo, do seu neto Epaminondas. Sem essa dedicação  jamais teríamos Epaminondas de Oliveira connosco e  ele continuaria esquecido,  enterrado que foi como indigente  num cemitério de Brasília. Obrigado, Epaminondas Neto!

Pessoalmente tenho muitas e boas lembranças e grande saudade do velho Epa e só não estou hoje aí para  participar da sua glória porque a minha saúde o não permite. Epaminondas foi para mim um mestre, um companheiro que me abriu caminhos que eu jamais descobriria e me enriqueceu com companheiros que a morte  também já roubou. Epaminondas foi um lutador desde o primeiro dia em  que tomou consciência que era necessário mudar o mundo, foi um combatente revolucionário que fez da sua vida a sua luta, um daqueles que por ter lutado todos os dias da sua vida se tornou imprescindível.



Eu  hei-de voltar aí um dia, não sei quando, porque a minha relação com EPA não terminou ainda e eu como caminhante do mesmo caminho quero prestar-lhe contas dos caminhos que trilhei sem ele. Até  de repente, querido amigo!

1 comentário:

  1. Tiro o meu chapéu a todos os inconformados, que lutaram por um mundo melhor, com as suas armas colocando em risco a sua saúde e vidas.
    Um grande abraço e até um dia destes Epaminondas Neto.

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