Chegou Beppe Grillo!
Há muitos, muitos anos que não se
via a Europa tão incomodada como agora, após o regresso, em força, à cena
política italiana de Sílvio Berlusconi. Nem a tomada de poder por Mussolini, na
Itália, nem a de Hitler, na Alemanha, incomodou tanto os líderes europeus como
o regresso de Il Cavaglieri ao pódio da política. Por que será que Berlusconi
incomoda tanto os banqueiros, os colunistas e luteranos e seus guarda-costas do
Norte e centro da Europa, os cardeais e monsenhores "donatários" e gestores
da política e dos negócios dos países do mediterrâneo, neles incluindo Portugal?
Afinal o que se reprova em Berlusconi?
O facto de com 12 anos de idade ter recusado a mesada do pai e ter vivido do
seu próprio trabalho? Se o trabalho ainda fosse um valor respeitável, o que se
faria dos jotas e dos boys que, logo que podem se apegam ao corpo dos partidos
políticos e do aparelho do Estado como sanguessugas? O ter sido cantor em
barcos de recreio? Há quanto tempo é que a quase totalidade dos políticos outra
coisa não faz mais do que dar música aos
seus eleitores? Ter sido o braço direito de Bertino Graxi, um primeiro ministro
socialista italiano, amigo do Sr. Mário Soares, que morreu no exílio, para não
morrer na prisão? Por ter levado o AC Milan ao topo do futebol italiano europeu
e mundial? O Barcelona, o Real Madrid, o Manchester United ou o Bayern nunca protestaram por isso. Será
então que toda esta aversão decorre do facto
de ele se ter tornado o homem mais rico de Itália? Bem, se os políticos
europeus quiserem entrar por aí vão ter de pensar muitas vezes antes de o
fazer e os seus áulicos arriscam-se a queimar a língua. Deixemos de fora a
Grécia, a Espanha, a França, a própria Alemanha e quase todos se não todos
os países que chegaram à Europa depois da queda do MURO: Deixemos tudo
isso de parte e fixemo-nos pois em Portugal.
Quem poderá prestar contas do tráfico de
dinheiro que chegou do exterior para os partidos políticos portugueses? Quem? E
das falências fraudulentas e dos contratos viciosos e das luvas das
nacionalizações e dos dinheiros chegados ou não da UE e dos dinheiros evadidos
para os paraísos fiscais, e do tráfico
de armas e da droga e dos trabalhadores ilegais e da escravatura sexual? E será que alguém se dispõe a falar de bancos
falidos e nacionalizados, de "transferências" de ministros de estado
para empresas privadas nacionais e estrangeiras?
Se o presidente da república
fosse o que ele diz que é e não o que se sabe que é de verdade faria , ao
menos, uma parte daquilo que o Papa Bento XVI fez: ia-se embora, mesmo sem
dizer porquê, já que a dignidade lhe falece para tanto. Mas, não. Ele ficará,
porque na representação pífia da farsa do poder ele é o ator principal.
Mas é muito fácil entender porque
os políticos europeus e os seus papagaios de pirata falam tanto e parece
preocuparem-se com o Cavaglieri. E digo
parecem, porque a sua preocupação verdadeira é o com o artista de profissão
palhaço que atende pelo nome de Beppe Grillo, que não é deputado nem senador,
mas deu corpo a um movimento popular
denominado "Cinco Estrelas. Na verdade este movimento, acusado de
anti-democrático, anti-sindical, anti-partidos, anti, anti, é anti-capitalista
e anti burguês sobretudo nas suas formulações
mais refinadamente elaboradas.
Este movimento "Cinco Estrelas"
pôs os verdadeiros donos do poder e os políticos seus lacaios de calças e
calcinhas na mão. Começo a desconfiar até que a Europa civilizada e asséptica
já deixou de o ser pois o fedor da merda e do mijo começa a fazer-se sentir
Mas que fez de mau ou de tão mau
o "Cinco Estrelas" de Grillo
para que luteranos, calvinistas, huguenotes, social-democratas, socialistas,
comunistas, líderes sindicais perpétuos, pais da pátria, filhos da outra, e sei lá quem mais para que estejam tão acirradamente
contra ele, numa cruzada que só tem paralelo com a organizada e desencadeada
contra os cátaros?!...
Quanto a mim nada demais. Talvez
tenha pecado por vir tarde. Mas a história e a guerrilha têm uma lei
inviolável, que é parte do segredo do seu sucesso: quem marca o andamento da
marcha é o último guerrilheiro da coluna. Pois bem, o "Cinco Estrelas"
juntou tudo o que era valores para a burguesia e o capitalismo e jogou-os no
lixo, preparando-se então para uma sociedade nova a partir da vontade expressa,
de modo permanente, pelo povo.
Afinal a pergunta que Grillo fez
aos italianos (aos pobres, aos desempregados, aos reformados, aos sem escola, aos sem futuro, aos doentes sem hospitais,
aos sem recursos, dependentes da solidariedade e da caridade pública, aos sem
poder, apesar do voto, aos que vão emigrar mas gostariam de ficar, podemos fazê-la
nós a nós mesmos: queremos mudar ou deixar tudo como está? Uma boa parte do
povo Italiano optou já pela mudança.
De que nos serve uma democracia
que não garante trabalho, escola, saúde, justiça, progresso, cultura, respeito
pela política empenhada?
Para que nos serve um presidente
da República que, ainda que eleito, por
uma minoria, se diz representante de todo um povo mas não passa de um mistificador,
de um Al-Babá, protector de 40 ladrões , de um santo de pau oco, como diz o
ditado popular.
Para que nos serve uma Assembleia
da República onde somente se tecem
mentiras e embustes, apadrinham interesses mesquinhos e mal sãos, onde o povo é
apenas um substantivo comum sem qualquer relação com a realidade! Não seria má
ideia fechar aquele circo, tendo porém cuidado de entretanto mandar empalhar
alguns daqueles símios e papagaios que agora lá andam à solta palrando e
fazendo momices. Serviriam para o departamento jurássico do Museu da História
Natural.
Para que nos serve uma democracia
que, há pelo menos quarenta anos( as excepções contam-se pelos dedos das mãos)
nos força a aceitar governos onde os Passos Coelho, os Sócrates, Os Durão Barroso,
os Relvas, os Santana, os Gaspar, os Jamais, os Jorge Coelho, os Cavaco, os...têm
sempre uma cadeira disponível para sentar os ministeriais rabos.
Não , não é isso o que os portugueses e os outros povos
do sul da Europa querem. Nada disso. Já estamos fartos e, mais dia menos dia,
começamos a partir a louça. O que mais queremos é uma democracia emanada do
povo mas amplamente participada e sempre vigiada pelo povo. A vara do poder,
assim como a da justiça têm de estar sempre iniludivelmente nas mãos do povo.
O poder e a lei são um património
inalienável de todo o povo e somente em
seu nome e com o seu mandato expresso
poderão ser exercidos.
O povo é quem mais ordena!
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