Comer com deus manda ou como o diabo
gosta
Estranham o
título de mais esta conversa? Pois não é de estranhar uma vez que a comida, o
bem comer é parte integrante e importante da nossa cultura mediterrânica. Afoitar-me-ei
a dizer até, generalizando, que a história do Homem está intimamente ligada à
sua alimentação. E aqui, nisto de comer e no modo e importância de o fazer é
que entra deus e o diabo.
Comer com
deus manda significa escolher e cuidar
bem dos alimentos. Cozinhar e comer são dois rituais, que se fundem num
só, que é o de conservar a vida em harmonia com a natureza, que é o Princípio e
o Fim de tudo. Ao contrário, alimentar-se como o diabo gosta é regredir à
irracionalidade, é deitar no lixo uma parte significativa da cultura universal,
é submeter-se ao jugo dos inimigos da diversidade alimentar, é entrar para o
rebanho dos comedores de ração. Os lugares de culto de todos estes
pobres-diabos são aqueles onde tudo o que se consome é transgénico, por isso
anti-natural e nocivo, mas que carreia lucros fabulosos para as empresas transnacionais
que movem uma guerra cruel à Natureza e à Vida. Nós, porém, aqueles que
respeitamos a Natureza e amamos a Vida, continuamos a comer como deus manda.
Se não, vejamos.
Não é um louvor a deus, a qualquer deus, seja ele Jeová, Alah, Inti, o deus de Jesus
e de S. Francisco de Assis, à Natureza de Espinoza, à vida, sentar-se no chão, ou numa almofada, ou à mesa
e "imolar" um bom estufado de borrego
ou de lama andina, acompanhados com arroz branco ou cuscuz de trigo,
milho ou mandioca, ou de fatias finas de pão alentejano, com chá de menta, de
jasmim ou de outra erva, ou regado com um bom vinho? Isto só é possível para
aqueles que mesmo sem o saberem, transformam o acto de alimentar-se num acto de
louvor . Nunca estará ao alcance
daqueles a quem os gregos e romanos denominaram de bárbaros e que agora nos
querem impor modos de vida transgénica.
Vão-se
embora, regressem ao vosso mundo, levem também os vossos feitores e aprendizes
e deixem-nos com os nossos deuses, que gostam da vida, do sol, do vinho e do amor. Os vossos relógios
não servem para marcar o tempo das nossas vidas. O nosso relógio é o do sol,
que aparece e desaparece para que haja dia e noite, madrugada e entardecer.
Vão-se embora e deixem-nos com a nossa Natureza, que é benigna e pródiga em
frutos e prazeres, sempre atenta, sempre bela e que nada nos pede além do
respeito pela sua ordem. Vão-se embora , levem convosco toda a vossa vã ciência
e inúteis conhecimentos, que nós queremos ficar com os nossos deuses e
partilhar com eles um guisado de borrego com molho grosso, feito com cebola,
pimento, alho e hortelã. Vão-se embora já!
19.59 h, que raio de hora escolhi para ler isto.
ResponderEliminarSeja lá o que for o Jantar, Presigo ou Conduto, além da Sopinha, com o que li, vou ter que me aplicar. Vale-me ser de um tempo em que só se gostava do que havia, em que não não era permitido dizer : - Não gosto disto. A resposta era imediata :- ninguém te perguntou se gostavas, COME! , não havia frigorifico, havia mosqueiro, e nos talhos o que é hoje proibido vender, dava petiscos valentes, pernas de galinha, bofes, sangue etc., . Era tempo em que o que se comia numa casa pobre, é hoje comida de rico, por exemplo bacalhau e chicharro. Valeu-me isso gostar das coisas simples a que as mulheres davam umas voltinhas transformando em pitéu.... Foram-nos tirando tudo isso, transformando as coisinhas de comer em produções de plástico, lá se foi a agricultura a pesca e o resto; safo-me como posso, ainda agora mesmo a minha filha que está na Dinamarca ( onde a comida é assim uma coisa que o melhor é mesmo não explicar ) chegou junto a mim dizendo : - Pai qual é a medida de arroz para cinco pessoas ? .. Ainda há bem pouco tempo os nossos vizinhos e hermanos não sabiam o que era bacalhau, lá para as Dinamarcas e Países de perto ainda hoje nem pegam no bacalhau... porque será então que a nossa quota de pesca do dito nos é cada vez mais reduzida ? Querem que a malta coma pizas, hamburguers e quejandos ? NÃO COMO.. AI...AI. o estufado de borrego.... as coisitas que como em Viana, na casa dos meus primos, onde o comer se decide de manhã ou de um dia para o outro, estando ali mesmo tudo á mão; basta ir atrás da casa, galinheiros, capoeiras, aidos, horta, tudo como a terra deixa e sem acrescentos...AI...AI.. o Borrego.