A decisão do 2.º tribunal criminal de Lisboa, inocentando os cidadãos Margarida, Carlos e José do atentado ao bom nome do major Silva Pais, último director da PIDE, declarando nulas as pretensões a uma indemnização monetária dos sobrinhos do dito major, abre caminho ao estabelecimento do Direito à Memória e à Verdade de todos aqueles que, ao longo de quarenta e oito anos, foram perseguidos pelo fascismo. Creio ainda, que o actual Estado deve começar a conscientizar-se de que terá de indemnizar materialmente as vítimas do fascismo se elas assim o exigirem.
O Estado português de hoje é o mesmo que se implantou em 1910 com a proclamação da República, que se organizou, segundo as normas dos regimes burgueses, republicanos e democráticos. O fascismo não foi um rompimento com o Estado burguês. Foi tão somente uma ruptura com a democracia. Como aconteceu noutros países. O 25 de Abril quis ser uma Revolução mas teve o seu rumo "corrigido" (?) pelo 25 de Novembro, restabelecendo o regime democrático representativo burguês. Revolução teria sido se ao fascismo se tivesse implantado um regime democrático, representativo e participativo. Se se tivesse erguido uma sociedade nova, com a participação activa dos cidadãos. Lá chegaremos pois a esperança num mundo melhor e mais solidário é a Utopia a perseguir.
Mas o que o tribunal não definiu, nem podia definir, é a responsabilidade que todos temos quando permitimos que se branqueie a História, que se apague a memória e se substitua a verdade por uma vaga e improvável lembrança. Esta luta não é uma obrigação só das vítimas. Também é. Mas não isenta a sociedade do seu dever.
Há mais de duas horas que estou para terminar este apontamento...duas horas a olhar para uma folha de papel , com a cabeça encostada na mão onde tenho a caneta. As lágrimas correm-me pelo rosto silenciosamente. É que de repente, ao imaginar os crimes do major Silva Pais, assaltaram-me, em tropel, as memórias vividas dos dias e anos de lutas de morte para que a liberdade, mesmo oprimida, pudesse sobreviver. E das memórias lidas, ouvidas, adquiridas sobre os crimes cometidos em todos os Tarrafais do mundo, em todos os Gulagues, em todos os campos de trabalho e concentração, em todos os antros de terror, covis de todas as PIDES, KGB, GESTAPO, DOI-CODI, CENIMAR ou que sigla fosse. Todos eles vêm comprovar a marca, o ferrete inapagável do TERROR.
Por mim desejaria que o tempo que tudo apaga, não pudesse jamais apagar a memória desse tempo, para que se não repita.
O juiz António Passos Leite que pronunciou a sentença ilibatória de José Manuel Castanheira, Carlos Fragateiro e Margarida Fonseca Santos a certa altura disse :"a crítica pública deve ser um direito e não um risco".
Os que lerem esta crónica reflictam sobre essas palavras. Hoje paro por aqui.
Está realmente TUDO TROCADO, tantos RISCOS por um DIREITO.
ResponderEliminarNão quero que continue a ser assim.
Atentemos nas nossas OBRIGAÇÕES para que o DIREITO não tenha RISCOS para ninguém.
Concerteza que há muitaaaaa gente que reconhece em ti um HOMEM DA LIBERDADE;
ResponderEliminarés mesmo desconcertante com certas tiradas de sabedoria feita de vidas VIVIDAS MESMO.....
Muita genteeeee ficaria grata em conhecer-te melhor.
Vamos lá gentes a divulgar esta página,,, não acham que já com mais de uma dúzia de presenças é horinha de não deixarem o ALIPIO a falar sózinho ?
Nada que ele não saiba e tenha até praticado, mas que carago ( na minha territa diz-se de outra forma ) UM CARINHO DE UM COMENTÁRIO, ainda por cima sobre coisas tão pretinentes, não ficava mesmo nada mal.
Os que entenderem que não há jeitinho para isso, deixem-lhe um ABRAÇO PORRA.
O HOMEM bem o merece, ou um BEIJO
que é o que eu aqui deixo ALÍPIO
Fiquei contente, aliviada e surpreendida ao saber que foi esta a sentença. Depois fiquei triste por perceber que, no fundo, não estava à espera que o desfecho da história fosse este, ou seja, infelizmente a expectativa que tenho da nossa justiça e dos nossos juízes é baixíssima e, na verdade, parte de mim continua a achar que os acusados apenas tiveram sorte e que boa parte da nossa população não considera a sentença inteiramente justa...
ResponderEliminarAna Ribeiro