Carta Vária, porquê?



domingo, 8 de fevereiro de 2015

Falando de música


Na sexta-feira p.p. resolvemos ir até ao Alentejo, mais propriamente até a Alvito, vilazinha do distrito de Beja, cujo interesse principal para nós, é o de termos lá alguns amigos e conhecidos e uma casinha, que não sendo um palácio é boa de disfrutar.
Chegámos e estava um frio de rachar daqueles que por esta altura assolam o Alentejo e que só uma boa lareira consegue espantar. O problema é que não havia lenha em casa, os aquecedores a gás estavam sem gás, pelo que resolvemos regressar pela manhã do dia seguinte. Se há uma coisa que não consigo entender é que na cultura cristã o inferno é extremamente quente, enquanto que na cultura grega é extremamente frio. Esta é uma das coisas em que as culturas grega e cristã não se entenderam. Quem sabe se o que está a acontecer entre o Syriza e a Europa não advém daí…

Mas falando a sério. No regresso para Lisboa, ao ligar o rádio do carro estava a ser transmitido na Ant2 um programa de música do professor João de Freitas Branco. Nem pensei em sair dali. E entre música clássica e informações históricas e culturais sobre as músicas, chegámos a Lisboa. Confesso que não me recordo do nome do Programa mas que fiquei seu fã, fiquei. Além do mais, o programa fez-me regressar a um passado já longínquo em que eu mal saído do Seminário, fui trabalhar para uma escola de artes e ofícios que acolhia meninos pobres, de idades entre os sete e os 18 ou 19 anos, quando iam cumprir o serviço militar.
Nessa escola aprendia-se artes tipográficas, mecânica de automóvel e artes afins, como pintura, e carpintaria. A escola primária era feita na escola oficial e alguns alunos estudavam na escola industrial da cidade.

Como em muitas outras escolas semelhantes, o aprendizado da música era oficial e obrigatório, pois em quase todas existia uma banda de música ou orquestra. O Patronato não era exceção. Assim, quando qualquer internando chegava punha-se-lhe nas mãos o solfejo de Tomás Borba, encarregando-se um dos alunos mais velhos do lho ensinar. Em poucos dias aprendiam a solfejar e iam experimentando, conforme as idades e os tamanhos, os instrumentos musicais que tinham à sua disposição. Desta forma, a escola dispunha sempre de uma orquestra e de uma banda de música para atuar em concertos e festas. Muitos dos alunos tornaram-se músicos profissionais em orquestras e bandas de música militares. Digo isto porque não consigo entender que sendo o estudo da música obrigatório em determinados níveis de ensino, a prática da música seja tão escassa e a falta de gosto tão generalizada em Portugal. E não se diga que o povo português não gosta de música, porque em todas as aldeias por onde passei, as pessoas não só cantavam música religiosa como mantinham a prática da música popular, sobretudo a que se referia ao trabalho.

Toda a música tem a sua origem no povo e quando ela se torna mais elaborada é fruto das muitas contribuições que esse mesmo povo lhe dá. Não existiriam nem Bach, nem Sibelius, nem Beethoven e tantos outros se não houvesse a música popular, aquela que tem raízes na cultura do povo.
Quanto ao professor João de Freitas Branco, quero apenas dizer-lhe que me tornei desde já assíduo ouvinte do seu programa e que todos os sábados estarei atento a ouvi-lo na Ant 2. Obrigado, professor.

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