Carta Vária, porquê?



quarta-feira, 29 de outubro de 2014

A praça é do povo.


 
 
 
Estou feliz. A Dilma venceu, mais ou menos à rasquinha, mas venceu. Era mais do que evidente que os cachorros que sempre nos andaram a morder os pés reagissem.Ainda a presidente Dilma não tomou posse e já eles estão inventando a possibilidade do impeachment, acusando-a de graves delitos tais como o chamado Petrolão. Não era de esperar outra coisa, até porque agora não têm mais militares para levá-los pela trela ao poder. Mas o que se faz com cães raivosos? Partem-se-lhes os dentes de modo a que não possam morder. E nisto temos que estar todos juntos, bem unidos, com os olhos fincados e bem fincados naquilo que são os objetivos finais da nossa luta, afinal na luta do povo brasileiro. Não podemos, de forma alguma, deixar que eles voltem a se assenhorear do poder. Por isso, todas aquelas reformas que nos trouxeram até aqui têm de ser feitas doa a quem doer, rapidamente, com determinação. Agora não há mais lugar para "disse-me disse" ou "ainda não é possível" ou então que "o povo não está preparado" para enfrentar connosco os seus opressores de sempre. Agora, mais do que nunca, é necessário unirmo-nos com determinação, sem vacilações. Quero também deixar uma palavra ao nosso povo para que ele não se iluda mais uma vez com aqueles que se diziam seus amigos e protetores mas nada mais fizeram do que oprimi-lo e explorá-lo. Afinal, quem é e o que é esse Aécio Neves? Quem era o seu avô? É difícil defini-los porque em todas as circunstâncias estiveram ao lado da repressão deixando o povo à sua mercê, até mesmo os seus companheiros. O senador Tancredo Neves formou um partido de oposição a pedido do ditador de plantão Castelo Branco. Nunca defendeu esse partido nem os poucos membros que ousaram discordar da ditadura. Assistiu, assobiando para o lado, a toda a repressão que a ditadura impôs ao povo brasileiro. Parecia que tudo o que estava a acontecer no Brasil não era com ele. Por casualidade e com a ajuda de alguns membros do partido governamental-Arena-foi eleito no Congresso presidente da República. Aécio foi eleito governador de Minas no falso prestígio do seu avô, prestigio esse que não chegou agora para elegê-lo presidente da República. Ainda bem. O povo brasileiro tem memória. Estou feliz.

Carta aberta a uma candidata vencida à presidência do Brasil



 
Marina:

Ao ter conhecimento da tua existência e da tua militância senti que alguma coisa estava a mudar no Brasil. Pela 1ª vez na História do Brasil uma mulher, que não pertencia à burguesia dominante saía da obscuridade da sua terra de nascimento, no Norte do Brasil e, através do seu esforço, ia escalonando os degraus do poder até chegar à mais alta corte do Brasil -o Senado. O mesmo deslumbramento devem  ter tido outros brasileiros e nem sequer temi que as forças reacionárias que sempre dominaram e exploraram esse país te pudessem abocanhar. Afinal, tu fazias o teu caminho com o Partido dos Trabalhadores que, mesmo não sendo um Partido perfeito, se assumia como uma força transformadora do Brasil. Foi assim durante anos até que começaram a surgir notícias preocupantes. A aliança com os movimentos evangélicos mais conservadores não augurava nada de bom. Não é que eu tenha alguma coisa contra os evangélicos, qualquer que seja a sua denominação. Tive grandes amigos, até norte-americanos, crentes presbiterianos praticantes. Jamais poderei esquecer o Paulo Wright que foi militante de A.P. e da A.P.M.L. e foi vilmente assassinado em S. Paulo pela polícia de Fleury. Para mim e para muitos outros que participaram na luta pela democratização do Brasil ele sempre será herói. Depois chegou-me a notícia de que irias abandonar o PT e filiar-te no partido dos Verdes. Quero dizer-te que tenho um imenso respeito e admiração pelo trabalho dos partidos ecologistas, pois defendem como ninguém, o meio ambiente, a casa comum de todos nós. Defender o meio ambiente não é tarefa fácil, rodeados que estamos de predadores, os mais poderosos e contumazes. Eles são contra a vida. Todavia, no Brasil eles , os Verdes, têm sido ineficazes. Então perguntei-me o que irias fazer nesse partido, abandonando um outro que não sendo perfeito, pela sua estrutura e penetração tem condições objetivas de encaminhar soluções que ajudarão a transformar o Brasil positivamente. Mais, soube-se também que a tua discordância com o PT era mais um caso pessoal do que político. Pelo menos, foi isso o que chegou ao meu conhecimento. Disso não me admirei, até porque os partidos, principalmente nos partidos revolucionários a luta interna é o seu dia-a-dia. De outro modo, mergulham numa paz podre. O que não cabe num partido revolucionário é a luta pessoal sem princípios. Assim, soube, à partida, que ias perder esse confronto com a presidente Dilma, então apenas Chefe da Casa Civil. Conheci-a na prisão. Ela é uma mulher de armas. Determinada nos seus propósitos, firme nas suas convicções. Não é uma mulher qualquer. Ela dominava aquele coletivo de mulheres do presídio Tiradentes com um à-vontade incrível. Depois as nossas vidas separaram-se, ela foi para o Rio Grande do Sul onde estava preso o seu ex-marido e eu transferido para outros e outros presídios. Ela merece hoje, como antes, a minha confiança e irrestrita solidariedade.
 

Tenho-te ainda como minha companheira de caminhada revolucionária, como combatente do mesmo exército libertador. Se quiseres aceitar um conselho meu, e eu já sou velho suficiente para poder dar conselhos, (tenho talvez tantos anos de militância política como tu de vida), inicia, já, hoje, o caminho do regresso, voltando ao seio de onde saíste para que todos te possam de novo receber e abraçar como companheira do mesmo combate.