Carta Vária, porquê?



quinta-feira, 19 de maio de 2011

Correr atrás do "velo de ouro"...

Agora do que mais se fala em Portugal, e  não só, é da final da Liga da Europa de Futebol, disputada em Dublin, entre duas equipas portuguesas, o Sporting de Braga e o Futebol Clube do Porto. Ganhou o FCP(1-0) mas, dizem os comentadores, se o Braga tivesse ganho, não seria um escândalo. Mesmo assim, repetem os mesmos comentaristas, ganhou a equipa mais rigorosa na aplicação da estratégia que a conduziria à vitória.
Para a UEFA, que é o organismo que manda no futebol europeu, esta final entre duas equipas portuguesas foi quase um susto. Como foi possível que duas equipas de um país, que anda por aí de chapéu na mão,  a pedir dinheiro emprestado, que jamais poderá pagar, tivesse deixado para trás os ditos "grandes" do futebol europeu e se apresentasse assim, em Dublin, para disputar a final e carregar com "o caneco"?!
Mas não foi só em Portugal que se chorou de alegria e também de tristeza, que se pulou e dançou, que se levantaram bandeiras e cachecóis e que se gritou "para o ano há mais".Também na Colômbia, na Argentina, no Uruguai, no Brasil e em todos os países da Lusofonia. Os gestos foram os mesmos. É que os "argonautas" que aportaram a Dublin, para cumprir o sonho  das suas vidas, carregavam consigo os sonhos de todos os seu povos. Todos lutaram e choraram com eles.
E agora, que o meu coração já bate ao seu ritmo normal, pois também me deixei contagiar pelo que acontecia à minha volta, pergunto-me por que toda esta força anímica, incomensurável que se concentra à volta do futebol, onde a vitória é só um sonho e a taça nem sequer é "um velo de ouro", pergunto-me, repito, por que toda essa energia não pode também ser dirigida no sentido da construção de um outro mundo possível, humano, fraterno, solidário, feliz, onde "a folha da palma afaga a cantaria" como cantou o Zeca Afonso...
Ninguém, nenhum de nós, permitiria que a maioria dos políticos, das mulheres ou dos homens públicos da nossa praça entrasse para a equipa de  que somos adeptos. Contudo, deixamos com uma leviandade que roça o absurdo, que tomem conta das nossas vidas, do nosso presente e do nosso futuro, que tripudiem sobre a nossa credulidade, afirmando que nós é que os elegemos, tendo-nos na conta de uns idiotas a quem podem enganar sempre que queiram. O que não deixa de ser verdade, porque o engano que nos consome e o descaminho em que estamos perdidos, não é de ontem.
Para Falcão, Dublin, foi o culminar de um  sonho de menino. E por que nós não poderemos  também sonhar com a nossa Dublin? Talvez seja necessário que todos voltemos aos nossos tempos de meninos, onde quais Falcões, jogávamos futebol com bola de trapos ou de meia, em ruas, praças, praias e baldios, sem árbitro nem bandeirinhas, com lealdade e entusiasmo. Éramos todos heróis e todos felizes, porque não havia "donos da bola".

6 comentários:

  1. Só não digo que estou surpreendida com este novo blog, porque já assimilei que o Alípio é uma surpresa constante e por isso, nele, a surpresa já não surpreende.
    Quanto ao texto sobre a Liga Europa, e como odeio futebol (não o desporto futebol, mas aquilo em que o futebol se tornou), fico a pensar, como pensei aquando do desfile de pais-natais cá no Porto (era para o Guiness e por isso as pessoas sairam à rua!!!!),...fico a pensar, portanto, que "nos" percebo cada vez menos: de facto mexemo-nos e emocionamo-nos pelas coisas mais ridículas, mas não somos capazes de dar um soco a quem nos mete as mãos no bolso e nos rouba a dignidade..
    Fico a aguardar mais textos, Alípio!
    Beijinho
    Ana Ribeiro

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  2. Ter certezas, especialmente no espaço de tempo que atravesso, pode por vezes ser considerado um absurdo., e efectivamente pode ser.
    NÃO PARA MIM ! ! ! !
    Arranjas-te a bonita, QUERIDO ALÍPIO
    Tenho a CERTEZA que a dignidade de HOMEM INTEIRO, aliado ao extenso manto de SIMPLICIDADE com que cobres tudo o que te rodeia, me vai fazer SENTIR muito melhor no dia a dia.
    Vou esperar a oportunidade de beber sofregamente os pedaços de vida que por aqui vais partilhar.
    O meu grande ABRAÇO e como não pode deixar de ser, deixo-te o meu BEIJO TERNURENTO

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  3. Um texto maravilho de uma pessoa brilhante, com quem cruzei no caminho. Desci do meu "jumento" para conhecê-lo. Daí nasceu o respeito e a admiraçao por um homem singular, com um coraçao do tamanho do corpo, cuja bondade pulsa por todos os poros.

    Alipio, será um prazer imenso seguir tuas inspiraçoes materializadas em textos.
    Forte abraço
    Pedro Moreno

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  4. Vou ficar a gozar o momento

    Amanhã atiro-me á bola

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  5. Ora vamos lá então á redondinha.
    Tal como ontem, os donos da bola de hoje, se não jogarem levam a bola pra casa e, lá fica a malta reduzida á condição de mero espectador, pior ainda, a torcer pelo dono da bola, na expectativa de poder dar uns biqueiros.
    Gostei muito de praticar futebol, aprecio um joguito bem jogado, hoje não é fácil acontecer, colocando-me cada vez mais á margem dessas andanças, que continuam a mobilizar multidões e a produzir milhões de treinadores.
    Fico amiude numa situação de desconforto ao verificar que á volta da bolinha e tal como ela, gira e rola, tanta, tanta coisa, passando tão pouca, mas importantissima para um plano abaixo de inferior, mas do máximo interesse para muitosssssss.....
    Os donos da bola, tal como ontem só permitem que joguem quem eles entendem,, ATÉ QUANDO ?
    Vi com curiosidade, bandeiras de várias nacionalidades desfraldadas numa manifestação de alegria e contentamento, mas com espanto tive dificuldade em ver uma bandeirita portuguesa, quando ainda por cima se tratava de uma jogo entre duas equipas de Portugal,,, deve ser a globalização pensei.... desiludi-me de imediato, lembrei-me das gerações que como a minha estiveram numa guerra indecente contra outro povo, também dos pais e das mães que sofreram por verem os seis filhos impelidos para uma coisa em que não foram tidos nem achados, lembrei-me também dos filhos dos que por lá andaram,,,,,,, ó diabo,,, todos esses, são os que hoje votam, passando a bola, tivesse eu neste momento uma bola, dava-lhe um biqueiro que haveria ela de subir tão alto, que se não ganhasse o bacalhau, ficaria por lá perto.....
    Não quero, nem nunca quis a bola só para mim, mas isto vai-me moendo lentamenteeeeeeeeeeeeee, gostava tanto que todos pudessem jogar limpo e em equipa....

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  6. Alípio, companheiro de vários caminhos.
    É com satisfação que te vejo nestas novas lides da comunicação.
    Começas mansamente, de forma humilde e quase reservada como é teu apanágio, a falar sobre futebol, mas eu sei que foi apenas um pretexto para hasteares as bandeiras que homens como tu ainda fazem tremular nos novos ventos.
    Aguardo com impaciência as futuras “lições” provenientes desse manancial inesgotável que é a tua vida.
    Um grande abraço
    Reinaldo

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