Há dias participei numa conferência
sobre o Brasil na Universidade Lusófona, na qual estiveram presentes um
professor do Sindicato de professores e pessoas indiferenciadas da sociedade
brasileira que vive e estuda por aqui. É claro que as opiniões foram várias, o
debate foi muito acesso e participaram dele muitas pessoas. O Brasil está na
ordem do dia, não por bons motivos, mas por motivos quase fúteis. As Olimpíadas
talvez tenham mais importância no momento do que o que se passa no Brasil em
termos políticos e institucionais. Parece que tudo está resolvido com uma
nomeação para presidente do Temer que eu creio está muito temeroso em relação
ao cargo que lhe mandaram ocupar. Ele não sabe se vai, se fica, se caminha para
a frente ou se vai de marcha à ré. Vai esperando.
Mas começando pelo princípio:
todo o mundo sabe, no Brasil, ou parecia saber, que a Dilma estava a prazo.
Fizeram tudo para que assim parecesse e acontecesse. Quem? Os mesmos de sempre.
Os golpistas tradicionais que sempre estiveram em todos os golpes desde que o
Brasil é Brasil. O latifúndio, especialmente e, agora, o latifúndio e os norte
– americanos. Como sabeis, o Brasil foi uma não-colónia que se transformou num
não pais. Napoleão ameaçou o rei D. João VI e, este, mais do que depressa embarcou
para o Brasil com todos os seus amigos e a comandita que o rodeava.O Brasil foi
retalhado em marquesados, condados e outros títulos de nobreza que era aquilo
que D.João VI tinha de oferecer aos que o acompanhavam na viagem.
Tudo terra para cultivar ou pequenas cidades para administrar. Como os índios
já não serviam de mão de obra, começou a importar-se mão de obra africana e aí
começa a escravatura no Brasil. Assim, todo o desenvolvimento brasileiro e toda
a valorização dos marquesados etc, deu-se em cima dos escravos que eram quem trabalhavam
a terra, as minas, e tudo o que fosse esforço laboral. Toda a riqueza que o Brasil
produzia em parte ia para a Metrópole e para Inglaterra. Houve várias revoltas
de escravos mas todas fracassaram, ou porque eram mal organizadas ou porque os
senhores estavam perfeitamente preparados para combate-las. Houve fugas de escravos
que duraram cem anos., chegando a construir cidades, como Palmares, que depois
foram destruídas pelos poderes reais e dos latifundiários. Em determinada
altura do governo de Portugal, já que o Brasil era uma Colónia, os liberais de
Lisboa exigiram a volta do Rei para a capital do chamado Império. Diga-se, em
abono da verdade, que D. João VI regressou ao reino com muito má vontade,
deixando a Província do Brasil, sob o Governo de D. Pedro I. Mas as ideias
liberais tinham entrado profundamente, tanto em Portugal como no Brasil, e
D.Pedro teve de regressar a Portugal, depois de renunciar ao trono do Brasil,
para defender os direitos da filha, D. Maria II. No Brasil foi proclamada a
República. Os generais sucederam-se uns ao outros e , quando se aboliu a
escravatura o Império acabou. E, daí, até ao presente momento, pouco mudou no
país continuando os senhores de terra, os liberais novos e antigos a governar o
Brasil, dando golpes sobre golpes, uns militares, outros civis, até ao presente
momento. O que aconteceu no Brasil com a presidente Dilma foi um golpe de
Estado.
Os contornos do caso Dilma
começam a definir-se logo na primeira posse como chefe da casa civil. Ela
aceita este posto no governo já perfeitamente inquinado, sabendo-se que era ali
que se praticavam a maioria das fraude das administração pública brasileira. Quando
Lula afastou Dirceu já tinha pleno conhecimento do que acontecia ou acontecera
por ali. Mas como foi ele o homem que aproximara o PT dos grupos
pequeno-burgueses que ajudaram o Pt a assumir o poder, Lula calou-se. Além do
mais, quando Lula constitui o seu Ministério, forma-o com pessoas bem estranhas
à política brasileira. O Ministro da Fazenda era um homem do Soros, o
presidente do Banco de Fomento vinha do Banco de Boston, e havia outros
ministros bem estranhos ao mundo do Partido dos Trabalhadores. Por outro lado,
os mais eminentes membros do PT ficaram de fora. Por isso, mutos dos apoios que
Lula teve na sua eleição passaram a olhá-lo com uma certa desconfiança. Além do
mais algumas da promessas eleitorais ficaram por cumprir, ainda que outras muito
importantes, o fossem como o salário família. Mas a educação, transportes, saneamento
e outras melhorias prometidas ficaram para o próximo governo. Dilma assume o
poder com todos esses encargos, assume a seu modo, mas com coragem. Só que a
coragem não basta especialmente quando a “entourage “ que a cerca é incompetente.
Dilma deu-se ao luxo de ter 32 ministros, possivelmente para a gradar aos
partidos com os quais fez coligação. Interveio na escolha de determinados
candidatos seus amigos, contrariando aqueles que o partido tinha escolhido. E
assim foi-se isolando, isolando, chegando a esta situação de desconforto. E as
hienas, que estavam à espreita para atacar no melhor momento, acossadas pelo
desvendar das sua tocas corruptas e fedorentas, atacaram sem pudor nem
vergonha. Com alarido e com todos os
dentes podres e sujos.
Fique bem claro que aqueles que apoiamos Dilma, continuamos a apoia-la.
Reconhecemos nela capacidades para desempenhar o cargo de Presidente da República.
Não podemos consentir é que ela seja jogada fora como um trapo imprestável.