Há
mais de mil anos que os europeus exploram a África. Primeiro foram os ikos, um
povo grego que em muitas e variadas ocasiões devastou o delta do Nilo. Depois
vieram os romanos que, com a sua avidez, conquistaram o Egipto por causa da abundância
de trigo. A seguir e por outros motivos conquistaram a Líbia, ocuparam a Tunísia
e a Argélia, fixando-se finalmente numa parte do que é hoje Marrocos. Tudo
para, diziam eles, evitar o domínio do Mediterrâneo pelos Cartagineses, um povo
fenício que se fixou onde é hoje Túnis. Este domínio e exploração só terminam
quando os árabes diante da fraqueza e contradições do Império Bizantino,
conquistam o que é hoje a Síria, o Líbano, a Jordânia, Israel, o Egipto e tudo
o mais até Marrocos. Mais tarde chegaram à Península ibérica onde ficarão por
mais de 700 anos. A conquista de Ceuta, pelos portugueses marca, porém, a
reconquista da África pelos europeus, reconquista essa que se faz ao longo de
toda a costa africana e chega até ao Golfo Pérsico. Tudo o que era riqueza,
como o ouro e pedras preciosas abundantes em África, vai chegando à Europa. Mas
a necessidade de mão de obra na América inicia o trágico período da
Escravatura. Segundo Davidson, historiador do assunto, mais de 150 milhões de
africanos foram arrancados da África e
levados para as Américas.
Com
o início da industrialização da Europa exigem-se matérias-primas abundantes. A
África é então objeto de novas explorações que já não se limitam à costa mas
entram dentro, dando origem ao tratado de Berlim que acomodou os interesses da Alemanha,
Inglaterra, França, Bélgica, deixando a Portugal Moçambique, Guiné e Angola.
Desta vez, já não era a escravatura o principal interesse, até porque no mundo
industrializado, um operário ficava mais barato, mais em conta, do que um
escravo. Mas todas as outras riquezas, como o ouro, a prata os diamantes, as
madeiras, os minérios como o cobre, os produtos agrícolas continuaram a fluir
para a Europa. Por incrível que pareça em consequência são agora os europeus
sob as mais diversas denominações e profissões que emigram para África.
No
final da segunda guerra mundial, sob pressão dos EUA que também havia sido uma
colónia inglesa, dá-se início à descolonização transformando-se as antigas
colónias em novos países independentes. Só que os ex-colonizadores
esqueceram-se de que a África foi divida a lápis e esquadro, separando povos e
regiões que jamais se encontrariam num novo país. Também os líderes africanos
foram escolhidos a dedo para que permitissem e favorecessem a exploração dos
seus países. Os que se opuseram ou resistiram foram assassinados ou depostos.
Todavia, as riquezas de que necessitava a Europa continuaram a fluir para cá.
Depois criou-se a teoria de que a África e os africanos não só não se sabiam
governar como também não tinham condições de se sustentar, esquecendo-se os
teóricos de que a África é um continente que dispõem de recursos suficientes
para proporcionar bem-estar ao triplo da sua população. Recursos que vão da
água potável, ao petróleo, ao gás natural, às terras férteis, às madeiras, ao
ouro, à platina, aos diamantes…
Como
a exploração continua, a miséria se tornou endémica e instabilidade política é
permanente, criou-se nos africanos a miragem da vinda para a Europa, onde todos
são felizes, onde o bem – estar é geral e a riqueza um património comum. Por
isso eles arriscam tudo para chegar a esse “El Dorado”, entregando-se a todo o
tipo de traficantes para morrerem depois na sua maioria afogados no Mediterrâneo.
E o que fazem os europeus? Reuniões e mais reuniões, mas nada de concreto para parar esse fluxo migratório.
Não
sei, mas talvez chegue o dia em que os europeus entendam que a terra e as suas
riquezas são um bem comum do qual todos os homens e mulheres têm o direito de usufruir.