Finalmente chegaste, amigo, velho guerreiro!
Há um direito civilizacional que está acima de qualquer
constituição ou poder e que nos vem do princípio
dos tempos, quando os homens começaram a viver em comunidade. É o direito
inalienável de todos os seres humanos velarem e chorarem os seus mortos e enterra-los
conforme o ritual estabelecido.
Apesar disso, ao longo dos tempos, muitos falsos poderes e
muitas instituições abusivas se levantaram contra esse direito e tentaram
retirar aos povos aquilo que nunca lhe poderá ser retirado: o direito aos seus mortos.
Foi o que aconteceu no Brasil a partir de 1964 quando uma ditadura militar fascista
se apoderou do poder e durante 20 anos atropelou os direitos humanos.
Epaminondas de Oliveira foi um daqueles, entre muitos outros,
a quem essa Ditadura negou os “sete palmos” a que todos temos direito na terra
e a ser venerado e chorado pela sua família e amigos diante
do seu corpo de lutador e homem íntegro. Felizmente Epaminondas de Oliveira
voltou à sua cidade, à sua família, aos seus amigos que no Brasil e fora dele o admiram e
respeitam para receber as homenagens que lhe são devidas e
ser conduzido, em triunfo, ao Campo Santo que o espera há 40 anos. Tudo isto,
este regresso e o reconhecimento da sua luta é fruto da persistência,do sentido
de justiça e do amor, mais do que
ninguém, da sua família e, sobretudo, do
seu neto Epaminondas. Sem essa dedicação
jamais teríamos Epaminondas de Oliveira connosco e ele continuaria esquecido, enterrado que foi como indigente num cemitério de Brasília. Obrigado,
Epaminondas Neto!
Pessoalmente tenho muitas e boas lembranças e grande saudade
do velho Epa e só não estou hoje aí para participar da sua glória porque a minha saúde
o não permite. Epaminondas foi para mim um mestre, um companheiro que me abriu
caminhos que eu jamais descobriria e me enriqueceu com companheiros que a morte
também já roubou. Epaminondas foi um
lutador desde o primeiro dia em que
tomou consciência que era necessário mudar o mundo, foi um combatente
revolucionário que fez da sua vida a sua luta, um daqueles que por ter lutado
todos os dias da sua vida se tornou imprescindível.
Eu hei-de voltar aí
um dia, não sei quando, porque a minha relação com EPA não terminou ainda e eu
como caminhante do mesmo caminho quero prestar-lhe contas dos caminhos que
trilhei sem ele. Até de repente, querido
amigo!