Carta Vária, porquê?



segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Em nome de Deus?


 

Observando a história da humanidade comprova-se que a expansão das regiões se faz sempre, ou quase sempre, de uma forma mais ou menos violenta. Sempre que um povo conquistava outro, impunha-lhe a sua religião como forma de dominação e, este processo manteve-se, praticamente, até aos nossos dias. Isto vem a propósito das execuções sumárias efetuadas pelo  auto denominado Estado Islâmico, no seu avanço para o Oriente Médio e para África. E não escolhe vítimas. Agora mesmo tivemos a noticia de que foram decapitados 21 egípcios cristãos coptas. Porém, houve um tempo em que a difusão da religião não foi assim. Temos de remontar  à expansão do Cristianismo no seu 1º seculo quando o amor se sobrepunha a qualquer outro sentimento. Os próprios pagãos diante da atitude dos cristãos repetiam com profunda admiração ”Vede, como eles se amam!”Mas esta atitude durou pouco porque quando o cristianismo se tornou religião do estado os cristãos repetiram o que já antes fora feito, impondo, ao mesmo tempo, o gládio e a cruz. Por isso, não é de admirar e não nos pode surpreender que o Islão, apesar dos tempos serem outros siga pelos mesmos caminhos. A jiade nada mais é do que a guerra santa contra os infiéis. E infiéis são todos aqueles, mesmo que adorem o mesmo Deus,  o não adorem da mesma forma daqueles que detêm o poder. Também isto é demonstrado pela história mais recente, pelas guerras que os cristãos travaram entre si, tentando cada igreja ou fação impor a sua verdade. Refiro-me, por exemplo, à guerra contra os Ussitas, à guerra dos 30 anos que envolveu os cristãos europeus e teve até repercussões profundas na formação dos estados da América do Sul e do Norte, na África e na Ásia. Todas as guerras de conquista territorial foram sempre acompanhadas de conquistas religiosas que, em alguns casos, levaram ao extermínio total de religiões locais ou à sua imposição. É certo que em todas as religiões houve movimentos e pessoas que procuraram difundir outros caminhos e outros modos de chegar a Deus. Mas o seu poder de persuasão ou influência foi muito pequeno E assim chegamos aos dias de hoje em que as guerras de religião continuam, guerras em que a ferocidade é maior, em que o poder de destruição ultrapassa o poder da espada, em que o mundo muçulmano pode ser transformado num Iraque e cada cidade numa Falluja. Assim o queiram os atuais detentores do poder. Refiro-me especificamente aos EUA. Há já muitas vozes que se levantam para que tal aconteça. Vozes que vêm dos países onde existe grande imigração muçulmana, vozes dos interessados nas riquezas desse mesmo mundo. Só os muçulmanos podem por cobro a tal situação, porque os cristãos estão mais dispostos à revanche do que à conciliação, mais apostados no saque do que no respeito pelas riquezas alheias. E o que restará do Oriente Médio e da África, cristã ou muçulmana se estas atitudes não forem mudadas? Nesta histeria quase universal são muito poucos aqueles que mantêm a serenidade, chamam as partes à razão e recordam a todos os homens que se Deus existe, existe igualmente para todos. Para todos sem distinção. Afinal somos companheiros de viagem.

domingo, 8 de fevereiro de 2015

Rilhafoles à vista!


Como era de esperar, o 1º Ministro grego, Alexis Tsipras foi ao Parlamento para definir o que será o seu Governo. Primeiro, reclamar da Alemanha as indemnizações devidas à Grécia por causa dos estragos aí perpetrados durante a ocupação alemã na II guerra mundial. A Alemanha que se arroga de cobrar juros do capital emprestado aos países que durante a guerra ocupou, tem agora, pela primeira vez, um país que lhe demonstra que o devedor é ela. A Grécia exige o pagamento da dívida. Disse ainda o 1º Ministro grego que a eletricidade voltaria a ser fornecida gratuitamente a todos aqueles que não a podiam pagar. Subiu o salário mínimo para 750,00 euros. Vai distribuir senhas da alimentação aos necessitados. Inviabilizou todas as vendas e privatizações do património e dos recursos naturais da Grécia. Reduziu substancialmente o salário dos políticos. E agora, Sr. Passos Coelho, ainda 1º Ministro? O que diz a tudo isto? Será que estas medidas continuam a ser histórias para crianças? Ou será que no PSD e no CDS não há ninguém que o avise do ridículo em que está a envolver o país?Diz um ditado grego que os deuses quando querem perder os homens, ensandecem-nos. Será que os deuses do Olimpo resolveram divertir-se consigo e com os partidos que o apoiam? Tome cuidado porque em Rilhafoles há sempre vagas disponíveis!

Falando de música


Na sexta-feira p.p. resolvemos ir até ao Alentejo, mais propriamente até a Alvito, vilazinha do distrito de Beja, cujo interesse principal para nós, é o de termos lá alguns amigos e conhecidos e uma casinha, que não sendo um palácio é boa de disfrutar.
Chegámos e estava um frio de rachar daqueles que por esta altura assolam o Alentejo e que só uma boa lareira consegue espantar. O problema é que não havia lenha em casa, os aquecedores a gás estavam sem gás, pelo que resolvemos regressar pela manhã do dia seguinte. Se há uma coisa que não consigo entender é que na cultura cristã o inferno é extremamente quente, enquanto que na cultura grega é extremamente frio. Esta é uma das coisas em que as culturas grega e cristã não se entenderam. Quem sabe se o que está a acontecer entre o Syriza e a Europa não advém daí…

Mas falando a sério. No regresso para Lisboa, ao ligar o rádio do carro estava a ser transmitido na Ant2 um programa de música do professor João de Freitas Branco. Nem pensei em sair dali. E entre música clássica e informações históricas e culturais sobre as músicas, chegámos a Lisboa. Confesso que não me recordo do nome do Programa mas que fiquei seu fã, fiquei. Além do mais, o programa fez-me regressar a um passado já longínquo em que eu mal saído do Seminário, fui trabalhar para uma escola de artes e ofícios que acolhia meninos pobres, de idades entre os sete e os 18 ou 19 anos, quando iam cumprir o serviço militar.
Nessa escola aprendia-se artes tipográficas, mecânica de automóvel e artes afins, como pintura, e carpintaria. A escola primária era feita na escola oficial e alguns alunos estudavam na escola industrial da cidade.

Como em muitas outras escolas semelhantes, o aprendizado da música era oficial e obrigatório, pois em quase todas existia uma banda de música ou orquestra. O Patronato não era exceção. Assim, quando qualquer internando chegava punha-se-lhe nas mãos o solfejo de Tomás Borba, encarregando-se um dos alunos mais velhos do lho ensinar. Em poucos dias aprendiam a solfejar e iam experimentando, conforme as idades e os tamanhos, os instrumentos musicais que tinham à sua disposição. Desta forma, a escola dispunha sempre de uma orquestra e de uma banda de música para atuar em concertos e festas. Muitos dos alunos tornaram-se músicos profissionais em orquestras e bandas de música militares. Digo isto porque não consigo entender que sendo o estudo da música obrigatório em determinados níveis de ensino, a prática da música seja tão escassa e a falta de gosto tão generalizada em Portugal. E não se diga que o povo português não gosta de música, porque em todas as aldeias por onde passei, as pessoas não só cantavam música religiosa como mantinham a prática da música popular, sobretudo a que se referia ao trabalho.

Toda a música tem a sua origem no povo e quando ela se torna mais elaborada é fruto das muitas contribuições que esse mesmo povo lhe dá. Não existiriam nem Bach, nem Sibelius, nem Beethoven e tantos outros se não houvesse a música popular, aquela que tem raízes na cultura do povo.
Quanto ao professor João de Freitas Branco, quero apenas dizer-lhe que me tornei desde já assíduo ouvinte do seu programa e que todos os sábados estarei atento a ouvi-lo na Ant 2. Obrigado, professor.

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Falando da Grécia



Conheci um padre, numa paróquia de Trás-os Montes que foi professor no Seminário menor de Vinhais que, em tempo de eleições, mandava os seus paroquianos votar no Partido para Deus, ou seja no PPD.Com a mudança de PPD para PSD, uma vez que Deus ficou a cargo do CDS que, segundo os seus líderes é democrata-cristão, não sei como é que o padre Valdomiro poderia “descalçar esta bota”. Mas o que eu não entendo, quer tratando-se do PPD ou PSD como é que eles elegem para seu secretário-geral, um “tipo” como o Sr. Passos Coelho. Será que o padre Valdomiro já morreu? Creio que ele serviria melhor aos interesses do PPD e CDS do que qualquer um dos seus militantes mais “combativos”. Em todo o caso, e para que não restem dúvidas, perguntem à Sra. Merkel. Vem isto a propósito das declarações do Sr. Passos Coelho sobre as eleições gregas que levaram ao poder o Syrisa e também da sua política patriótica em não se rebaixar diante da Europa. O Syrisa colocou desassombradamente os interesses da Grécia e do seu povo acima dos interesses de dominação, sobretudo da Alemanha, lembrando a todos os alemães que os únicos beneficiários da atual política europeia são eles mesmos. Mais ainda, que a Alemanha que já lançou o mundo em duas guerras sempre saiu beneficiada com elas, pois os seus credores, por este ou aquele motivo, sempre acabaram por perdoar-lhe as dívidas de guerra ou minorar o seu impacto. Mais ainda, o Syrisa lembrou à Europa que a Grécia existe como entidade política antes da própria Europa existir, resistindo como entidade cultural a todo o tipo de dominações, desde a romana à nazista, passando pela turca e russa czarista. Fala-se muito da dívida grega, que beneficiou apenas os ladrões e políticos do costume, mas nunca ninguém falou da dívida permanente que a Alemanha, a França e a Inglaterra têm com a Grécia pelo esbulho constante do seu património cultural. Basta visitar os museus de Paris, Berlim ou Londres…!