Carta Vária, porquê?



quinta-feira, 12 de dezembro de 2013





O direito a um lugar para viver






O Senhor Presidente da República e o seu Ministro de Negócios Estrangeiros ficaram extremamente indignados com o desembarque em Portugal de 74 refugiados sírios, vindos da Guiné-Bissau. Também a TAP afinou pelo mesmo diapasão. Entre as muitas exigências colocadas pelo Senhor Presidente da República à Guiné-Bissau está a de que o seu Governo deve esclarecer em minúcia tudo o que aconteceu no aeroporto de Bissau. Não deixa de ser caricato que o Governo português exija de um Governo, que não reconhece, explicações cabais sobre um determinado assunto. A TAP, por sua vez, tomou a decisão que lhe parecia mais correta. Suspendeu os voos entre Guiné e Portugal, trissemanal, até que existam condições objetivas para o funcionamento da empresa. Convém porém dizer que a TAP não tem poderes de polícia para aceitar ou recusar passageiros porque estes já foram liberados pelas autoridades policiais aduaneiras. Essa atitude, quanto a mim, enquadra-se numa prespetiva xenófoba e racista, prespetiva essa que não levou em consideração o facto de os passageiros virem de um país em guerra civil. E já agora, sempre quero dizer que , no deve e haver entre Portugal e a Guiné-Bissau, o saldo é francamente desfavorável à Guiné. Durante séculos os portugueses caçaram, exportaram e venderam milhares e milhares de escravos arrancados à Guiné. Quando os portugueses finalmente resolveram estabelecer-se definitivamente na região, depois do tratado de Berlim, fizeram-no a ferro e fogo. Para a  Guiné  emigraram milhares de portugueses e aí construíram as sua vidas e as suas fortunas. Finalmente, quando os povos da Guiné decidiram tornar-se independentes e construir um país, Portugal moveu-lhe uma guerra durante 12 anos  que só terminou no 25 de Abril. Devem também os portugueses lembrar-se de que há milhões de concidadãos seus emigrados no mundo, de que houve milhares e milhares de portugueses sem papéis que saíram a salto em busca da liberdade e de melhores condições de vida. Hoje mesmo milhares de portugueses, jovens na sua maioria, abandonam este país em busca de uma vida melhor em muitos lugares do mundo.
Eu mesmo fui emigrante, emigrante clandestino, passei fronteiras com papéis verdadeiros e falsos, vivi anos na clandestinidade, fui exilado político e após dez anos de prisão achei-me na condição de apátrida. Só em 1984 eu recuperei a minha cidadania. Vivo agora em Portugal, onde trabalhei, pago impostos, voto e continuo a lutar por um mundo onde ninguém tenha de ser clandestino.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013





Madiba: 

Hoje foi uma grande perda para o Mundo e maior perda para mim!
Mas não quero recordar o dia de hoje como o dia da tua partida. Quero celebrá-lo antes como o momento em que tu te transformaste em miríades de pequenas luzes que se incrustaram nos corações do teu povo e daqueles que, em todo o mundo, percorrem os teus caminhos, seguem os teus passos. Por vontade tua o teu corpo será sepultado na tua aldeia natal, junto da tua mãe e da teu filho mais velho. O teu corpo. O teu corpo, que o teu espírito já viajou para a constelação da Utopia onde te encontrarás com todos aqueles que lutaram por um mundo melhor e mais solidário, por um mundo mais fraterno. Os que ainda por aqui ficamos, os mais novos e aqueles que já estão na reta final das suas vidas, todos hão-de continuar a tua luta. Por mim, Madiba, quero dizer-te, mais uma vez e sempre, PRESENTE!
 
Alípio de Freitas