Carta Vária, porquê?



quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013




Chegou Beppe Grillo!

Há muitos, muitos anos que não se via a Europa tão incomodada como agora, após o regresso, em força, à cena política italiana de Sílvio Berlusconi. Nem a tomada de poder por Mussolini, na Itália, nem a de Hitler, na Alemanha, incomodou tanto os líderes europeus como o regresso de Il Cavaglieri ao pódio da política. Por que será que Berlusconi incomoda tanto os banqueiros, os colunistas e luteranos e seus guarda-costas do Norte e centro da Europa, os cardeais e monsenhores "donatários" e gestores da política e dos negócios dos países do mediterrâneo, neles incluindo Portugal?
Afinal o que se reprova em Berlusconi? O facto de com 12 anos de idade ter recusado a mesada do pai e ter vivido do seu próprio trabalho? Se o trabalho ainda fosse um valor respeitável, o que se faria dos jotas e dos boys que, logo que podem se apegam ao corpo dos partidos políticos e do aparelho do Estado como sanguessugas? O ter sido cantor em barcos de recreio? Há quanto tempo é que a quase totalidade dos políticos outra coisa não faz mais do que  dar música aos seus eleitores? Ter sido o braço direito de Bertino Graxi, um primeiro ministro socialista italiano, amigo do Sr. Mário Soares, que morreu no exílio, para não morrer na prisão? Por ter levado o AC Milan ao topo do futebol italiano europeu e mundial? O Barcelona, o Real Madrid, o Manchester United  ou o Bayern nunca protestaram por isso. Será então que toda esta aversão decorre do facto  de ele se ter tornado o homem mais rico de Itália? Bem, se os políticos europeus quiserem entrar por aí vão ter de pensar muitas vezes antes de o fazer  e os seus áulicos arriscam-se  a queimar a língua. Deixemos de fora a Grécia, a Espanha, a França, a própria Alemanha e quase todos se  não todos  os países que chegaram à Europa depois da queda do MURO: Deixemos tudo isso de parte e fixemo-nos  pois em Portugal. Quem poderá prestar contas  do tráfico de dinheiro que chegou do exterior para os partidos políticos portugueses? Quem? E das falências fraudulentas e dos contratos viciosos e das luvas das nacionalizações e dos dinheiros chegados ou não da UE e dos dinheiros evadidos para os paraísos fiscais,  e do tráfico de armas e da droga e dos trabalhadores ilegais e da escravatura sexual?  E será que alguém se dispõe a falar de bancos falidos e nacionalizados, de "transferências" de ministros de estado para empresas privadas nacionais e estrangeiras?
Se o presidente da república fosse o que ele diz que é e não o que se sabe que é de verdade faria , ao menos, uma parte daquilo que o Papa Bento XVI fez: ia-se embora, mesmo sem dizer porquê, já que a dignidade lhe falece para tanto. Mas, não. Ele ficará, porque na representação pífia da farsa do poder ele é o ator principal.
Mas é muito fácil entender porque os políticos europeus e os seus papagaios de pirata falam tanto e parece preocuparem-se  com o Cavaglieri. E digo parecem, porque a sua preocupação verdadeira é o com o artista de profissão palhaço que atende pelo nome de Beppe Grillo, que não é deputado nem senador, mas deu corpo a um  movimento popular denominado "Cinco Estrelas. Na verdade este movimento, acusado de anti-democrático, anti-sindical, anti-partidos, anti, anti, é anti-capitalista e anti burguês sobretudo nas suas formulações  mais refinadamente elaboradas.
Este movimento "Cinco Estrelas" pôs os verdadeiros donos do poder e os políticos seus lacaios de calças e calcinhas na mão. Começo a desconfiar até que a Europa civilizada e asséptica já deixou de o ser pois o fedor da merda e do mijo começa a fazer-se sentir
Mas que fez de mau ou de tão mau o "Cinco Estrelas"  de Grillo para que luteranos, calvinistas, huguenotes, social-democratas, socialistas, comunistas, líderes sindicais perpétuos, pais da pátria, filhos da outra,  e sei lá quem mais para que estejam tão acirradamente contra ele, numa cruzada que só tem paralelo com a organizada e desencadeada contra os cátaros?!...
Quanto a mim nada demais. Talvez tenha pecado por vir tarde. Mas a história e a guerrilha têm uma lei inviolável, que é parte do segredo do seu sucesso: quem marca o andamento da marcha é o último guerrilheiro da coluna. Pois bem, o "Cinco Estrelas" juntou tudo o que era valores para a burguesia e o capitalismo e jogou-os no lixo, preparando-se então para uma sociedade nova a partir da vontade expressa, de modo permanente, pelo povo.
Afinal a pergunta que Grillo fez aos italianos (aos pobres, aos desempregados, aos reformados, aos sem escola,  aos sem futuro, aos doentes sem hospitais, aos sem recursos, dependentes da solidariedade e da caridade pública, aos sem poder, apesar do voto, aos que vão emigrar mas gostariam de ficar, podemos fazê-la nós a nós mesmos: queremos mudar ou deixar tudo como está? Uma boa parte do povo Italiano optou já pela mudança.
De que nos serve uma democracia que não garante trabalho, escola, saúde, justiça, progresso, cultura, respeito pela política empenhada?
Para que nos serve um presidente da República que,  ainda que eleito, por uma minoria, se diz representante de todo um povo mas não passa de um mistificador, de um Al-Babá, protector de 40 ladrões , de um santo de pau oco, como diz o ditado popular.
Para que nos serve uma Assembleia da República  onde somente se tecem mentiras e embustes, apadrinham interesses mesquinhos e mal sãos, onde o povo é apenas um substantivo comum sem qualquer relação com a realidade! Não seria má ideia fechar aquele circo, tendo porém cuidado de entretanto mandar empalhar alguns daqueles símios e papagaios que agora lá andam à solta palrando e fazendo momices. Serviriam para o departamento jurássico do Museu da História Natural.
Para que nos serve uma democracia que, há pelo menos quarenta anos( as excepções contam-se pelos dedos das mãos) nos força a aceitar governos onde os Passos Coelho, os Sócrates, Os Durão Barroso, os Relvas, os Santana, os Gaspar, os Jamais, os Jorge Coelho, os Cavaco, os...têm sempre uma cadeira disponível para sentar os ministeriais rabos.
Não , não  é isso o que os portugueses e os outros povos do sul da Europa querem. Nada disso. Já estamos fartos e, mais dia menos dia, começamos a partir a louça. O que mais queremos é uma democracia emanada do povo mas amplamente participada e sempre vigiada pelo povo. A vara do poder, assim como a da justiça têm de estar sempre iniludivelmente nas mãos do povo.
O poder e a lei são um património inalienável de todo o povo e somente  em seu nome  e com o seu mandato expresso poderão ser exercidos.

O povo é quem mais ordena!