Carta Vária, porquê?



sábado, 15 de dezembro de 2012






 

A solução final

Quando tudo parecia estar a correr bem, eis que se levanta um burburinho à volta dos lares de idosos. Choveram de todo o lado denúncias escandalosas que referem coisas e atitudes abjectas e uma desatenção criminosa por parte do Estado, que tendo obrigação de fiscalizar, não fiscaliza ou fiscaliza mal.
Que chatice dos diabos, devem ter pensado ou dito Coelho e Portas. Já não bastam os estivadores, aparecem agora os Velhos. Por que não morrem todos?! Os Velhos, claro, que os estivadores ainda precisamos.
Como o Estado não tem recursos para gerir todos os lares que por aí pululam e os novos que precisavam de ser criados para os mais de 38000 velhos que carecem  de internamento, só uma Solução Final pode resolver o problema. E não se finjam de espantados ou surpreendidos, porque afinal essa é já a solução que o governo vem aplicando quando lança no desemprego milhares e milhares de trabalhadores, quando diminuiu drasticamente as pensões sociais, quando põe na rua milhares de famílias, quando afirma que a emigração é o caminho a seguir por milhares e milhares de jovens.
Além disso a Solução Final não foi uma inovação de Hitler ou Eichman. Ela faz parte do arsenal do capitalismo que a pôs em prática em muitos lugares do mundo e em diversas épocas da história. Basta relembrar o genocídio que a Coroa Inglesa praticou contra os índio norte-americanos, espalhando entre eles o vírus da varíola, ou os que espanhóis e portugueses praticaram na América Latina, ou ainda  a tragédia da escravatura negra que foi um dos maiores negócios do capitalismo europeu. O genocídio ou do etnocídio são uma prática comum e corrente do capitalismo que não se encerrou com a escravatura mas se perpetua até aos nossos dias em distintos lugares do mundo sempre  que "as necessidades do progresso" capitalista o exigem.
Vamos lá Coelho-Portas, decidam-se logo e resolvam ao menos durante um tempo o problema dos lares de idosos. Procurem logo o vosso Dr.Mengel e o vosso Eichman. Candidatos a Goebels há muitos.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012



Prémio Nobel da Paz, porquê?


Confesso que ainda não consegui entender porque motivo o Governo de Passos_Portas não se assume como mais um peão no tabuleiro do xadrez capitalista que domina a União Europeia. Preferem esconder-se atrás de um suposto projeto social europeu, um projeto social gerido pelo capital financeiro, pelos banqueiros, pelos capitães da industria, pelos fomentadores de guerras, pelos traficantes de toda a espécie de tráfico, pelos operadores em paraísos fiscais, pelos genocidas sociais.

Apesar disso e por uma pretensa luta em favor da paz, a União Europeia atribuiu-se o prémio Nobel da Paz. Ouvi atentamente o discurso do senhor  que esteve a justificar o galardão, mas em momento algum ele se referiu à destruição da Jugoslávia, à criação de um Estado de traficantes, o Kosovo, à transformação dos antigos países do leste em colónias alemãs e espaços de imensas desigualdades sociais. Também não falou da colaboração ativa da Europa na destruição do Iraque, da Líbia e ainda da sua presença no Afeganistão. E também o dito senhor não disse uma palavra sobre o permanente apoio da Europa a Israel na sua luta contra o povo palestiniano. Será que a publicidade do holocausto e seus horrores,  impede que a Europa recorde  a perda dos milhões de europeus, vítimas da mesma guerra e da ideologia que a provocou? E por que será que o dito senhor  se "esqueceu" de lembrar os milhões de desempregados europeus, da quebra das prestações sociais, do ataque sistemático aos direitos adquiridos dos trabalhadores e dos cidadãos, ao aumento da xenofobia? Somente porque não houve mais guerras entre a França e a Alemanha? Permita-se que a Alemanha volte a ser uma potência militar e logo se verá até onde chegam os seus "bons propósitos". Pois bem, é nesta Europa galardoada pelo Nobel da Paz que Portugal se insere, fechando os olhos às guerras políticas , sociais, económicas, culturais, civilizacionais  que, em todo o sul mediterrânico, se travam. Assim, o  Governo Coelho-Portas não consegue enxergar o que está á sua frente nem o antes dele. E qualquer membro deste mesmo Governo fica extremamente desagradado quando alguém, jornalista ou não, lhe recorda as realidades que ora vivemos como se elas não existissem.


quinta-feira, 6 de dezembro de 2012



                   A Utopia tem nome-Niemeyer

Desde ontem pela tarde que a Comunicação Social vêm confirmando aquilo que já se esperava, a morte de Niemeyer. Amigos, conhecidos, biógrafos, admiradores todos têm falado dele ou melhor dizendo, da sua obra como arquiteto. Mas pouco se ouve sobre a sua personalidade ou sobre a sua vida, sobre o cidadão empenhado, sobre o militante comunista. Parece querer esquecer-se que toda a obra de Niemeyer tem a marca indelével da sua ideologia. Não fui seu amigo , não privei da sua intimidade, mas conhecia-o o suficiente para ter por ele uma admiração que me acompanha há mais de 50 anos. Onde o conheci? Não me recordo, mas pode muito bem ter sido no seu atelier de Brasília, quando aquilo era apenas um inóspito "cerrado" onde uns quantos sonhadores já vislumbravam uma cidade capital de um novo país que estava a nascer, centro do mundo, talvez. Pode também ter sido no Rio de Janeiro, na sua casa, levado pela Olga Vierjawski, uma arquiteta sua e minha amiga. Onde foi? Não importa. Importante foi tê-lo conhecido. Ele faz parte da pequena galeria de homens grandes que conheci e com quem privei ao longo da minha vida.
Agora que ele partiu, há-de falar-se e repetir-se até á exaustão, tudo o que já antes se disse sobre a sua obra: pode até acontecer que se descubram nela coisas e intenções que o próprio nem viu nem teve. Eu, porém , que não entendo mais de arquitetura do que qualquer simples mortal, quero é falar da sua solidariedade sempre abrangente, material quando alguém precisava de ajuda, também política durante todo o tempo que vigorou a ditadura militar. Essa mesma ditadura militar que durante vinte anos substituiu a lei pelo arbítrio, cassou direitos políticos, sequestrou, prendeu, torturou, assassinou e fez desaparecer milhares dos seus opositores, foi impotente diante de NIemeyer, ainda que o tenha arrolado no Processo do Partido Comunista Brasileiro e tenha jogado no lixo alguns dos seus projetos para Brasília. Mas nunca foi capaz de impedir a sua solidariedade ativa aos que lutaram contra a ditadura, mesmo nas prisões, onde visitava presos políticos,  jamais se atreveram a cassar-lhe os direitos políticos, o direito de ir e vir , de entrar e sair do Brasil.
Comunista desde muito jovem, militante ativo no partido Comunista  (condição que nunca escondeu) quando um grupúscolo de "bastardos" decidiu extingui-lo, tendo até o seu secretário-geral, Roberto Freire, se apropriado do símbolo do partido, Niemeyer e outros companheiros seus refundaram-no e, em Tribunal, recuperaram o símbolo partidário- a foice e o martelo.
Num tempo em que o enriquecimento fácil e até criminoso, num tempo em que a honestidade pessoal passou a ser o opróbrio, num tempo em que os tostões viraram milhões, em todo esse tempo, Niemeyer recebia  como primeiro e principal operário da construção e manutenção de Brasília, o salário mínimo nacional.
Evidentemente que será impossível, mesmo que Brasília deixasse de existir, esquecer Lúcio Costa, Burle Marx e Óscar Niemeyer. Todos têm lá a sua marca pessoal. Muitas marcas. Mas há duas, ambas de Niemeyer, que sobressaem sobre todas as outras: a figura dos "candangos" na Praça dos Três Poderes, como que a afirmarem que sem povo não há poder e a sombra da foice  e do martelo, que todos os dias, ao sol posto, a estátua de Juscelino(JK) do alto do seu memorial, projeta no chão de Brasília. A arquitetura e o urbanismo de Brasília são pormenores. O importante é a marca ideológica de quem a projetou.
Obrigado , mestre, por Brasília e tudo o mais.
Lisboa, que há cinquenta anos, tem sido submetida a uma fúria urbanicida imparável, deve ser a única cidade do mundo onde um projeto de Niemeyer começado a nascer morreu. Ainda quando o ex-presidente Jorge Sampaio era presidente da Câmaras de Lisboa, Niemeyer projetou, gratuitamente, a sede de então criada Associação Luso-brasileira. Estava-se no inicio da grande emigração brasileira para Portugal. Arrecadou-se algum dinheiro, juntaram-se esforços e a obra começou a nascer onde existira o Palácio dos Alfinetes, na zona oriental de Lisboa. Mas um dia tudo parou por falta de recursos e o projeto acabou nos arquivos insondáveis da Câmara de Lisboa. Até hoje. Muitos esforços foram feitos para levar esse projeto até á sua conclusão, mas todos se mostraram inúteis. E não creio que a situação mude, seja qual for a Câmara de Lisboa. A esta cidade não fazem falta projetos de Niemeyer. Ainda se fosse mais um silo para automóveis ou um túnel ou uma rotunda. Afinal o Marquês de Pombal e o Eng.Duarte Pacheco já não andam por cá. Agora a Lisboa bastam os empreiteiros e os "patos bravos". Lisboa pode passar muito bem sem Niemeyer.